Há mais de 50 anos que vendedores usam corredor central da estrada que acaba na praia de Matosinhos para vender pára-ventos e guarda-sóis. Muitos param até para comprar melão.
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Há anos que se anunciam projetos de requalificação para a centenária via que serve de fronteira entre o Porto e os concelhos de Matosinhos, Maia e Gondomar. Já neste século, falou-se em transformar os 16 quilómetros da Estrada da Circunvalação, oficialmente designada EN12, num bulevar, numa alameda urbana, sem a conhecida pressão automóvel. Os anos vão passando e novas ideias são anunciadas por autarcas sem que os projetos saltem do papel. A estrada continua como ela é, com muito trânsito e, por estes dias de verão, a tradição cumpre-se, com vendedores de cadeiras, de pára-ventos, guarda-sóis e de melões a ocupar o pouco cuidado separador central.
Clara Ferreira vende lenha durante o inverno e, nos meses de julho e agosto, sai da loja e ocupa o separador central da Circunvalação na zona de Aldoar, a escassos metros da rotunda da anémona.
Tudo é disposto numa ordem capaz de atrair o automobilista que vai a banhos à praia de Matosinhos. Pendurados numa corda estão os conjuntos de baldes, pás e forminhas para os mais pequenos brincarem na areia. Depois, surgem as cadeiras de todas as cores, formas e feitios. Os pára-ventos, indispensáveis nas praias do Norte, e os guarda-sóis são às dezenas.
"Fazemos já parte da paisagem e os pais, que em crianças compravam aqui de caminho para a praia, agora fazem-no com os filhos", explica Clara, que desde há seis anos nunca deixou de vender. Nem no ano passado, apesar das fortes condicionantes que resultaram da pandemia. "Este ano, está pior, porque a pandemia continua, mas não está calor", acrescenta.
A tradição de vender artigos de praia no corredor central tem mais de 50 anos e começou quando a Circunvalação "era o único caminho em direção a Matosinhos". Logo após o cruzamento do Monte dos Burgos, está Jerónimo também com artigos semelhantes aos de Clara e que fala em gente de todas as idades e classes sociais que ali param para comprar.
Produtos nacionais
"Temos artigo semelhante ao comercializado nas grandes superfícies, mas em pouca quantidade. O que vendemos mais é artigo nacional, a um preço semelhante, mas de maior qualidade. Por exemplo, tanto os pára-ventos como os guarda-sóis são em algodão", explica Clara. Tudo produzido em fábricas de Soure, Guimarães, Barcelos ou Gondomar. Fátima Fernandes, uma cliente que parou para comprar uma cadeira de ler, confirma a "durabilidade" do artigo de beira de estrada. "Era pequena e pedia aos meus pais para parar aqui para comprar baldes ou toalhas de praia", recorda.
Os vendedores estão no separador central das 9 às 19 horas e os preços variam conforme a qualidade e o tamanho das peças. Um pára-vento de quatro paus, por exemplo, custa dez euros. O de cinco paus 12, o de seis 15 euros, e o de sete 17,5.
A caminho da praia, um pouco antes da rotunda dos Produtos Estrela, está o Rei do Melão. José Neto vende não só melão, mas também azeite e mel. "É muito bom! É espanhol. O nosso de Almeirim era mais apreciado, mas o fornecedor deixou de produzir", diz José, acrescentando que é a nove euros e meio o quilo e que para a praia não há melhor. "Nem precisa de ir ao frigorífico".