Com fim anunciado em dezembro de 2020, os tanques de armazenamento da refinaria de Leça da Palmeira, em Matosinhos, começam a ser demolidos esta segunda-feira. Esta fase do processo deverá prolongar-se durante dois anos e meio, informou a Galp. A reabilitação dos solos avança depois.
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Quando foi anunciado o encerramento da Petrogal e porquê?
Descrita como uma "decisão inevitável", a Galp anunciou, a 21 de dezembro de 2020, que iria dar "início ao processo de descontinuação das operações de produção da refinaria de Matosinhos, inaugurada em 1970, mas mantendo a sua atividade enquanto infraestrutura logística". Em causa estiveram as "alterações estruturais dos padrões de consumo de produtos petrolíferos motivados pelo contexto regulatório" e pela covid-19. À data, a notícia surpreendeu autarcas a governantes, que garantiram desconhecer a intenção da empresa. O primeiro-ministro, António Costa, garantiu até que daria uma "lição exemplar" à Galp depois deste "disparate".
O que pretendia a Galp fazer naqueles terrenos?
Poucos dias depois do anúncio da empresa, pouco ou nada se sabia sobre as intenções da Galp quanto ao futuro dos terrenos em Leça da Palmeira. Certo é que, por essa altura, temia-se a criação de uma refinaria de lítio naquele local. As suspeitas cresceram perante a celebração de um acordo entre a Galp e a Northvolt para o fornecimento de lítio refinado, para fabrico de bateriais. Uma semana depois do anúncio da empresa, a 28 de dezembro de 2021, a presidente da Câmara de Matosinhos, Luísa Salgueiro, garantiu que não emitiria quaisquer licenças que permitissem essa solução avançar. E mais: rejeitou qualquer alteração da classificação dos terrenos no Plano Diretor Municipal. A Galp garantiu, mais tarde, à autarca, que a estratégia da empresa em relação ao lítio não passaria por Matosinhos.
Quantas pessoas trabalhavam na Petrogal?
Contavam-se 401 trabalhadores diretos na refinaria de Leça da Palmeira, aos quais se juntavam cerca de 1100 prestadores de serviços. Em janeiro de 2021, os colaboradores da Galp continuavam sem resposta quanto ao seu futuro, tendo a empresa afirmado que, nos meses seguintes, aquele complexo iria ser transformado num parque logístico. Mesmo depois de uma reunião com o ministro do Ambiente, e com João Galamba, - à data secretário de Estado da Energia -, os trabalhadores mostraram-se desapontados e criticaram a falta de soluções. Sem um "projeto concreto", a empresa reuniu com os trabalhadores quase um mês depois de ter anunciado o fecho da Petrogal, que disseram ter saído do encontro com "uma mão cheia de nada". Vários vereadores da Oposição alertaram para a possível especulação imobiliária.
Em que mês parou a refinação?
Em abril de 2021, - quatro meses após o anúncio de encerramento -, as máquinas de refinação da Petrogal pararam. Nessa altura, os trabalhadores disseram ao JN estar "à espera do despedimento coletivo", prevendo que as restantes fábricas encerrassem até ao final daquele mês. Ainda em abril, Luísa Salgueiro dava conta de que cerca de 100 trabalhadores terão aceitado manter o vínculo com a Galp.
O despedimento coletivo afetou quantos trabalhadores?
No início de maio de 2021, a Galp disse não ter "outra alternativa senão dar início a um processo de despedimento coletivo" na Petrogal. Essa intenção afetaria cerca de 150 trabalhadores, para os quais, justificou a empresa, não foi possível encontrar solução. Em causa estiveram trabalhadores em atividades de manutenção, operadores de processo e técnicos de laboratório. Outros 100 colaboradores manteriam a sua atividade: no parque logístico, ou por via da mobilidade interna para outras áreas da empresa.
Quando foi conhecido o projeto de reconversão dos terrenos?
Mais de um ano depois do anúncio do fecho. Em fevereiro de 2022, com a assinatura de um protocolo de cooperação entre a Galp, a Câmara de Matosinhos e a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N), a empresa anunciou a intenção de criar, em Leça da Palmeira, uma pequena cidade tecnológica com vista para o mar. Estimava-se a criação de entre 20 e 25 mil postos de trabalho. De acordo com Luísa Salgueiro, aquele projeto eliminaria por completo qualquer possibilidade de "especulação imobiliária" naqueles terrenos. Nessa mesma cerimónia, foi anunciada a cedência de uma parcela de terreno à Câmara de Matosinhos para construção de um polo universitário em parceria com a Universidade do Porto. Certo é que, de acordo com o que foi apresentado à data, também haverá espaço para habitação, comércio e hotéis. Em junho, a Galp já tinha pedido ao Município para começar a demolir o complexo.
Qual o nível de contaminação dos solos?
A informação não é pública. Dois anos depois, em dezembro de 2022, sabia-se que os terrenos foram avaliados, mas nenhuma entidade (Agência Portuguesa do Ambiente ou Ministério do Ambiente) avançou, à data, com conclusões. Certo é que todas as parcelas estarão contaminadas e, por isso, a Câmara de Matosinhos vai começar a construir o polo universitário numa fração de terreno (também cedida pela Galp) fora da área do complexo petroquímico. Ainda assim, só depois do desmantelamento, e após uma nova reavaliação do nível de poluição, será possível saber com certeza o estado dos solos e o consequente custo da descontaminação.
O desmantelamento vai durar até quando?
Prevê-se que, até 2026, desapareça pelo menos metade do complexo petroquímico de Leça da Palmeira. A operação de desmantelamento da refinaria arranca esta segunda-feira. As primeiras estruturas a desmantelar serão os tanques de combustível, seguindo-se depois as restantes fábricas, tais como a de lubrificantes, óleos-base e aromáticos. Esta etapa deverá arrancar nos primeiros meses do próximo ano.
Mas a refinaria não ia ser vendida?
Não. Um grupo inglês apresentou à Galp uma proposta de compra da refinaria de Leça de Palmeira por 285 milhões de euros (com a intenção de retomar a atividade), mas isso não significa que a empresa seja obrigada a vender o complexo. Aliás, a intenção não terá sido sequer considerada pela empresa, uma vez que o processo de demolição está já a iniciar-se de acordo com o calendário previsto.