Sem adubos nem pesticidas, cultivam uma horta onde tudo tem um nome e uma função. Aboliram o plástico e fartam-se de ganhar prémios com as melhores compotas.
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São apenas três, mas trabalham por muitas. Fátima, Conceição e Francisca, as irmãs que compõem a comunidade de monjas cistercienses de Rio Caldo, juntinho à basílica de S. Bento da Porta Aberta, no Gerês, são especialistas e vencedoras de vários prémios nacionais na elaboração de compotas e licores conventuais.
"O nosso lema de vida é a oração a que dedicamos seis horas por dia, distribuída por sete tempos em que nos juntamos na capela. O resto do dia é passado na horta e na cozinha", explica a irmã Fátima. São elas que cavam a terra, semeiam, tratam e colhem. Aceitam fruta e legumes dados pelos vizinhos porque a produção que têm não é suficiente para os bens que produzem. Recebem visitas que, invariavelmente, passam pela capela para uma pequena oração, e os homens são sempre convidados a "rachar lenha ou fazer algum dos trabalhos mais duros no campo".
As compotas, para além dos biscoitos sem ovos e sem glúten, e de outras manufaturas, são o ex-líbris da comunidade e fazem as delícias de restaurantes, lojas e clientes particulares. Anualmente, o problema repete-se: nunca chegam para as encomendas. A compota de pepino com baunilha, usada por alguns restaurantes como acompanhamento de carne e peixe, é a primeira a acabar. Depois, as premiadas misturas de "compota de pimento assado, chuchu e a de cereja e malagueta" são as que nunca existem em stock. As de fruta, feitas em maior quantidade, são as que se vendam mais. Este ano, a compota de mirtilo ganhou o primeiro prémio na XXI Mostra Internacional de Doces e Licores Conventuais.
"O nosso único rendimento vem da venda do nosso trabalho. Não temos salário, mas vivemos dignamente com o dinheiro que fazemos na venda de produtos", frisa a irmã Francisca, a responsável pela horta e pomar.
Nos cinco anos em que estão a viver em Rio Caldo, numa casa cedida pela Irmandade de S. Bento, a pequena horta transformou-se num laboratório ecológico. Todas as ervas têm nome e a irmã Francisca sabe o que fazer com elas. Usam o sistema de rega gota a gota, fazem compostagem e, com o dinheiro da venda as últimas compotas, compraram uma máquina para triturar os restos agrícolas.
Os fertilizantes são todos naturais e as pragas são eliminadas com a plantação de novas plantas que combatem os males da horta: cascas de ovos penduradas nas árvores, bem como recipientes com produtos naturais, garantem o afastamento de pragas e asseguram que a fruta será boa e com fartura.
PORMENORES
Plástico fora
O plástico foi banido da casa das monjas. A cerâmica, o vidro, o tecido e o papel são usados e reusados até ao limite. Muitos consumidores de compotas devolvem o frasco para ser reutilizado.
Dinheiro reinvestido
A casa onde vivem é emprestada pela Irmandade de S. Bento e, em troca, as monjas tratam dos paramentos religiosos. Com o dinheiro obtido com o seu trabalho criaram e mobilaram uma pequena capela e compram equipamentos para a horta e para a cozinha.
Únicas em Portugal
A Ordem de Cister nasceu em 21 de março de 1098, em França, fundada pelos santos Roberto de Molesmes, Alberico e Estêvão Harding. Em Portugal, o Mosteiro de Lafões, em 1138, foi a sua primeira casa e tal como outras ordens religiosas foram expulsas do país em 1835. Regressaram em 2005, ao Gerês.