Em Amares, os alunos do Centro Escolar Dom Gualdim Pais participaram no campeonato digital de matemática, que une todas as escolas da região. A competição faz parte do programa Hypatiamat.
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É dia de campeonato. Na sala de aula da professora Júlia não há barulho. Os olhos estão postos nos ecrãs e, à medida que os jogos vão passando, as contas de cabeça traduzem-se em pontos. No campeonato digital de matemática do Cávado, que se realizou a 2 e 3 de junho, participam todas as escolas e “todos saem vencedores”.
Os computadores e os “tablets” chamam logo a atenção de quem entra na sala do 4.° ano, do Centro Escolar Dom Gualdim Pais, em Amares. As cores vivas e brilhantes saltam dos ecrãs e a concentração de quem está do outro lado é notória. “Não vou dormir a noite toda, vou ficar a jogar”, diz Lucas Dias, entusiasmado, enquanto faz uma pausa nas contas de cabeça.
O campeonato é apenas um dos momentos em que se celebra um programa maior, o Hypatiamat, que nasceu para dar resposta ao baixo desempenho escolar na disciplina das somas e multiplicações. A plataforma digital, que junta a vertente curricular e o cálculo mental, permite aos professores ensinarem matemática de uma forma mais atrativa, através de “jogos sérios”. “Quando estamos a trabalhar os jogos sérios, estamos a trabalhar o cálculo mental, mas também estamos a trabalhar o currículo. Se os alunos forem cada vez mais pré-eficientes na utilização dos recursos Hypatiamat, no que diz respeito ao trabalho no domínio das competências da aritmética mental, depois vai refletir-se no seu próprio desempenho na disciplina de matemática”, explica Ricardo Pinto, coordenador do projeto do Hypatiamat, que já está implementado em vários municípios do país.
"Matemática é a minha matéria favorita"
Antes de ir para a escola, a ansiedade já tomava conta de Lucas. Sentado junto ao quadro, onde as pontuações dos alunos que estão a participar são atualizadas ao minuto, o menino de dez anos confere a sua posição: “Estou em primeiro na turma e na escola”, sublinha, com um sorriso de orelha a orelha.
Por volta das 11 horas, Lucas já tinha realizado cerca de 36 jogos. Os caracóis dão-lhe personalidade e o à-vontade com que resolve os exercícios de matemática entusiasma a turma toda. “Adoro matemática, é a minha matéria favorita. Quando fiz os 6510 pontos fiquei a tremer com medo de perder, mas ultimamente nunca erro uma partida, é fácil”, conta.
Apesar da comunidade escolar apelidar os exercícios da plataforma de “jogos”, os trabalhos são construídos para que “haja sempre um esforço cognitivo”. “Eles [os alunos] não estão a brincar e isso dá um conforto aos pais. A nossa plataforma não é uma rede social, não guarda “cookies”, não permite que os alunos interajam entre eles. É uma plataforma de trabalho, os alunos estão a trabalhar cognitivamente e estão a ser estimulados”, explica Ricardo Pinto.
"Os alunos aprendem mais facilmente"
De um lado para o outro, entre as pequenas secretárias, a professora Júlia Santos percorre a sala de aula e vai ajudando em eventuais dúvidas. “[Os alunos] ficam sempre muito entusiasmados com estes dias. O jogo funciona como uma competição e ninguém quer perder, mas esse não é o aspeto mais importante. No fundo, eles jogam para se superarem a si próprios. A maior satisfação que eles tiram, e que eu tiro, é poder comparar os resultados com os do ano passado e verificar que evoluíram”, explica a professora do Primeiro Ciclo.
São os professores que escolhem se querem ou não aderir ao programa Hypatiamat nas suas aulas. Para a professora Júlia, a plataforma é “uma mais-valia”. Quando começou a trabalhar, há cerca de 40 anos, havia “um quadro, um giz e pouco mais”. À medida que o tempo foi passando, teve de se adaptar e hoje é uma adepta das tecnologias. “Sempre que há um projeto que vai de encontro a estas mudanças, eu alinho e tenho tido bons resultados”, afirma.
Na sala de aula da professora Júlia, os computadores são usados uma vez por semana e já não é preciso avisar. “Há um empenho muito grande dos alunos, eles aprendem mais facilmente, porque, no fundo, vivem num mundo mais do digital. E o facto de haver associação de imagem e texto, ou som, é mais fácil para a criança aprender”, sublinha.
Em dias normais, ao lado dos ecrãs cheios de cores e números, estão pousados os cadernos e os livros, que nunca podem ser esquecidos. Só nos dias de campeonato é que são “dispensados”. “Temos de os deixar trabalhar na plataforma com critério. Há momentos em que faz sentido, há outros momentos que não. É óbvio que o Hypatiamat é mais apelativo, os alunos têm feedback na hora, e podem ganhar cromos e troféus. Mas, tem de ser com conta, peso e medida”, explica o coordenador nacional do Hypatiamat.
"Gosto mais dos dias em que uso o computador"
De computador à frente, e em silêncio, Mariana Barbosa está focada em conseguir resolver o maior número de jogos possível. Não é fã de matemática porque tem algumas dificuldades, mas adora os dias de campeonato. “O ano passado correu bem, consegui mais de 6400 pontos”, diz, tímida, a menina de dez anos. A disciplina favorita de Mariana é inglês e sonha ser cantora quando crescer. Mais reservada, a pequena, a quem as sardas dão um ar ainda mais amoroso, garante estar “contente” e que o “jogo está a ser fixe”. “Gosto mais dos dias em que uso o computador, mas também gosto do livro”, sublinha.
A plataforma é preparada para todos os alunos. Aliás, o lema é “todos contamos, todos somos importantes”, como explica Ricardo Pinto. “O projeto do Hypatiamat serve os alunos com dificuldades, os alunos médios e os alunos bons. Os professores têm de, de alguma forma, ser hábeis na utilização da plataforma, de forma a que as tarefas atribuídas sejam adequadas”, ressalva.
A ideia do programa passa por centrar a aprendizagem no aluno e não na turma. Ou seja, os professores podem atribuir diferentes tarefas, adequadas a cada fase de aprendizagem, podendo até distribuir exercícios de anos letivos diferentes, ao mesmo tempo que monitorizam a realização dos trabalhos.
“Quando um aluno faz uma tarefa, tem automaticamente a solução. Já quando está a fazer sozinho no papel, não sabe. Nós conseguimos aceder e ver: se tiverem uma pontuação positiva, aparece a verde, se for negativa, aparece vermelho. Se fizerem mal, podem voltar a repetir e aprender”, afirma a professora Júlia Santos.