Estão sempre fardados, sigla GNR ao peito, mas podem ajudar a realizar sonhos, ensinar equitação, apoiar idosos que conhecem pelo nome, dar concertos para plateias cheias ou em instituições sociais, fazer terapias com crianças e jovens e construir com eles laços de amizade e confiança, organizar ações solidárias... Vestir a farda da GNR passou a ser mais do que servir uma força de segurança e no Porto, de guardas a oficiais, não falta quem faça desta uma missão para todos.
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Terapia "já vale a pena só pela alegria deles"
É felicidade em estado puro: se Patrícia vibra com a égua Elis, ainda que tenha de cumprir os exercícios de hipoterapia que o fisioterapeuta lhe pede, é em êxtase que a jovem utente da Misericórdia do Porto abraça o dócil Pepper, um pachorrento golden retriever de nove anos que está vocacionado em exclusivo para a cinoterapia, outra das valências terapêuticas disponibilizadas pelo Comando do Porto da GNR à comunidade.
"Já vale a pena só pela alegria deles", diz o 1.° sargento João Teixeira, que chefia a Secção Cinotécnica do Destacamento de Intervenção do Porto e é o tratador do Pepper, o único cão do Comando ao serviço da cinoterapia. "Ajudar na mobilidade e ganhar mais autonomia" são algumas das vantagens do contacto de pessoas com necessidades especiais com os cães, aponta o militar.
Verdadeiro amigo
Carla escova o cão uma e outra vez. Patrícia multiplica-se em afagos. Bate com a mão no joelho para voltar a chamar Pepper; torna a alisar-lhe o pelo dourado. "Gostas? É teu amigo?", pergunta o fisioterapeuta Vítor Miranda. Toda embalada em entusiasmo, a rapariga não hesita em acenar que sim com a cabeça, e abraça-se num beijo ao golden retriever.
Antes, tinha sido a vez de Elis receber um abraço de Patrícia, que faz a hipoterapia acompanhada pelo terapeuta da instituição que a acolhe e pela dupla de Ferreiras - cabo Bruno Ferreira e guarda principal Nuno Ferreira -, dois militares com formação em equitação terapêutica que acabam por desenvolver laços afetivos com os jovens. "Dá cinco ao Bruno", desafia o cabo, enquanto guia Elis à volta do picadeiro do quartel do Carmo, no Porto.
Além dos "benefícios da interação com os animais" no processo de socialização, Vítor Miranda destaca as vantagens a nível da "correção corporal e reforço muscular" para estes utentes da Misericórdia do Porto, que sofrem de patologias graves, com impactos motores e cognitivos.
"Estimular o movimento é uma mais-valia, para que as características das síndromes não se instalem com tanta rapidez", explica o técnico.
Dão música a lares, associações e escolas
João Pires, saxofonista e chefe da Banda de Música da GNR, apresenta cada música com um sorriso. Tem a voz serena, olhos da cor do céu, cabelos já brancos. Integra a formação desde 1989. "Vamos fazer uma pequena homenagem ao falecido compositor Vangelis", anuncia, para logo de seguida os cerca de 10 instrumentistas fazerem ecoar no quartel do Carmo o pujante "Chariots of fire", imortalizado no filme "Momentos de glória".
O grupo de utentes da Misericórdia do Porto haveria de assistir à atuação, após uma manhã de terapias. De braços no ar, Patrícia está de novo arrebatada. Ainda ouvirá uma adaptação de "El gato montés", de Manuel Penella, uma orquestração própria de "Filhos da nação", dos Quinta do Bill, e "Baby shark", num arranjo de Nuno Osório, que é percussionista da banda e compositor.
"Sempre a inovar"
"Estamos sempre a inovar e a fazer novas orquestrações. É uma preocupação nossa tentar não tocar o mesmo nos sítios onde vamos. Nós é que fazemos as orquestrações daquilo que tocamos, e tentamos inserir repertório consoante as idades [dos públicos], o que tem sido uma mais-valia notória. Tem sido um sucesso", revela João Pires.
Aos 52 anos, o saxofonista tem o posto de sargento-ajudante, mas não está adstrito ao serviço operacional: é músico da GNR a tempo inteiro, e integra o quadro honorífico de músicos da Guarda, tal como os restantes elementos da banda. "E olhe que não conseguimos fazer mais nada!", atira, a sorrir, João Pires, que lembra o "muito tempo" dedicado aos ensaios e aos concertos em "lares, associações, coletividades em geral e escolas", num "trabalho muito próximo com as equipas de policiamento de proximidade". Tudo somado, são "mais de 100 serviços, em média, por ano".
O sargento-ajudante Carlos Silva lembra ainda o "serviço religioso", que a banda também faz. "Adaptamo-nos às necessidades da instituição e ao público-alvo", diz o músico, que toca clarinete e, tal como o sargento Nuno Osório, alimenta a esperança de voltar a ter uma formação maior. "Já fomos 45", recorda.
Outras ações dos militares
Apoio a idosos em risco
O acompanhamento de idosos, através do policiamento de proximidade, é outra valência da GNR de âmbito social. São sinalizados seniores que vivem isolados ou noutras situações de maior fragilidade e os militares vão efetuando visitas regulares às residências, no âmbito do programa "Idosos em Segurança".
Ensinar equitação a todos
Os cavalos que fazem o serviço operacional da GNR têm também funções na escola de equitação da Guarda, que está aberta à comunidade, mediante inscrição. Além do serviço prestado à população, abaixo dos preços de mercado, esta valência permite também aos militares ir trabalhando os animais.
Ações de sensibilização
Além das visitas escolares organizadas ao quartel do Comando do Porto, no Carmo, a GNR promove várias demonstrações de meios, ao longo do ano, em escolas. Realiza ainda ações de sensibilização, também em contexto escolar, sobre temáticas relacionadas com a segurança dos mais jovens, em variados contextos.