A Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto cumpriu na tarde desta quarta-feira mais um momento do programa de comemorações dos seus 140 anos, com uma homenagem ao patrono, Rodrigues Sampaio, e o anúncio da aquisição do acervo de Óscar Lopes, composto por mais de 50 mil documentos, que irá ser aberto para consulta pública.
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Só livros são mais de 25 mil, sobretudo de escritores portugueses e muitos deles autografados. Mas do acervo adquirido à família do professor, ensaísta e crítico literário Óscar Lopes (1917-2013) constam também cartas, datiloscritos, jornais e fotografias que irão figurar na biblioteca homónima, a instalar no último piso da sede da associação. A data de abertura vai depender da resposta aos pedidos de apoio feitos junto da Câmara do Porto e do Ministério da Cultura.
Para Francisco Mangas, presidente da associação, este legado é "essencial para uma compreensão da história social, cultural e política" do século passado. "Queria muito que nos 141 anos a biblioteca fosse aberta", referiu ao JN.
Também antigo dirigente da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto, Óscar Lopes manteve durante décadas uma vasta correspondência com escritores, editores, livreiros e tradutores, nacionais e estrangeiros. Entre os documentos estão também anotações em várias edições da "História da Literatura Portuguesa" (obra redigida em coautoria com António José Saraiva) ou em poemas de Herberto Helder, Sophia de Mello Breyner e Manuel António Pina.
Por entre os mais de 25 mil volumes da sua biblioteca figuram primeiras edições autografadas de autores como Aquilino Ribeiro, José Saramago, Eugénio de Andrade ou Agustina Bessa-Luís, só para citar alguns. "Nesses livros, não raras vezes, Óscar Lopes anotou impressões de leitura, comentários, etc. transformando-os em objetos raros, singulares", referiu Francisco Mangas.
Apesar de o aniversário ser a 13 de outubro, a instituição assinalou-o nesta quarta-feira, para ajustar à agenda do presidente da República, que, afinal, não pôde comparecer. A cerimónia incluiu a inauguração, em frente ao edifício, de um busto de Rodrigues Sampaio, réplica da peça que a associação encomendara ao escultor Teixeira Lopes aquando da sua fundação, em 1882.
Figura central das comemorações, António Rodrigues Sampaio inspirou a criação da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto precisamente um mês depois de falecer. Natural de Esposende, foi redator dos jornais "A Revolução de Setembro" e "Espectro" (este último alimentado clandestinamente entre 1846 e 1847), tendo chegado a ser ministro e, até, a chefiar o Governo, entre março e novembro de 1881.
Francisco Mangas recordou que, mesmo nos momentos adversos, Rodrigues Sampaio não declinou "os princípios de homem livre, de cidadão com palavra", apesar de a sua rebeldia de jornalista ter enfraquecido quando exerceu cargos políticos, o que lhe valeu duras críticas.
Além do busto, a evocação do patrono ficou marcada por outros dois momentos. Por um lado, o lançamento do livro "O Panfletário Glorioso", uma recolha de textos que vários jornalistas e escritores que lhe dedicaram após a sua morte, obra com organização, prefácio e notas de Manuela Espírito Santo. Por outro, o anúncio da reedição do Prémio Rodrigues Sampaio já em 2022.
Atribuído pela instituição entre os anos 50 e 80, então para distinguir autores de ensaios publicados na Imprensa - de que foram exemplos Óscar Lopes, Joel Serrão ou José Manuel Tengarrinha -, o galardão terá como destinatário "alguém que, como Rodrigues Sampaio, se destaque na defesa da liberdade de pensamento", segundo Francisco Mangas.
As celebrações dos 140 anos da associação vão estender-se a 2023 e incluem uma série de colóquios, encontros em torno da literatura e sessões regulares de poesia.