Desde 2020, 142 hectares de floresta, integrantes da Rede Natura 2000 e da Reserva Ecológica Nacional, foram dizimados na Serra da Lousã, por atividade de um empresário madeireiro. Dessa área, 75 hectares são, alegadamente, pertença da Câmara Municipal, que não terá autorizado o abate.
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Esta quarta-feira, a Associação de Recuperação do Talasnal foi ouvida, na Assembleia da República, na Comissão de Ambiente e Energia, onde pediu “socorro”. E exigiu alterações na lei, que travem episódios semelhantes no futuro.
“Resolvemos pedir uma audiência para ver se alguém nos presta socorro”, deixou claro logo ao início Maria José Sousa, empresária no ramo do turismo, no Talasnal, queixando-se da ausência de respostas por parte de entidades como o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas e a Inspeção-Geral da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território.
Cortes rasos
Tudo começou em 2020. “Só acreditámos quando vimos as máquinas a começarem a fazer corte raso [técnica utilizada quando é removida a totalidade, ou quase, das árvores de determinada área]. É uma calamidade. Aquilo coloca em risco várias questões ambientais”, explicou Dinis Cascão, presidente da associação.
A “diminuição dos lençóis freáticos, a erosão dos solos e a invasão de acácias” foram alguns dos problemas identificados pelo dirigente associativo.
Embargo desrespeitado
Jorge Gomes, também em representação da associação, falou numa “delapidação da floresta” e sublinhou a gravidade da utilização de cortes rasos. "Temos uma aldeia de xisto de interesse municipal, com rochas de 500 milhões de anos. Há geosítios, há linhas de água e ecossistemas a proteger. A geomorfologia nem permite cortes rasos, porque tem declives acentuados. Há deslizamentos de terras. Estamos a estragar o ambiente e a ir contra a lei, que diz que temos de evitar a deterioração dos habitats naturais e dos habitats das espécies”, alegou.
Após anos sem uma solução à vista, os membros da associação apelaram a uma mudança na legislação. Em causa, principalmente, está “a proibição de cortes rasos”. Mas também “haver verificação e validação do que é vendido e do que é comprado” e existir “um plano de reflorestação sempre que haja corte raso”.
Outro dos problemas, segundo Dinis Cascão, prende-se com um incumprimento, por parte do madeireiro, de um embargo judicial – na sequência de uma providência cautelar, interposta pela Câmara e pela associação –, datado de 2022. “Não foi minimamente respeitado”, lamentou o dirigente.