A associação Sirigaita acusa a Câmara Municipal de Lisboa de estar a deixar morrer coletividades, anunciando que vai organizar, no sábado, uma parada para denunciar o despejo de que está a ser alvo.
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Em comunicado, a associação cultural sem fins lucrativos - com sede no centro da cidade e que serve de espaço de convívio e também de reunião para nove coletivos - aponta o dedo à atuação da autarquia de Lisboa, que "não disponibiliza os espaços vazios que tem" às coletividades, "estranguladas pelos efeitos da especulação imobiliária".
Com o aumento das rendas e dos preços das casas, associações e coletividades têm sido forçadas a mudar de zona da cidade ou a encerrar definitivamente.
A Sirigaita "é uma das muitas associações culturais e coletividades de Lisboa que se encontra a enfrentar um processo de despejo".
Em finais de 2023, o senhorio - a empresa Bagoandas Imóveis Lda., que, segundo a associação, detém dezenas de alojamentos locais no centro da cidade - não renovou o contrato de arrendamento, mas a Sirigaita recusou entregar as chaves do piso térreo que lhe serve de sede desde o final de 2018, recorrendo a tribunal para permanecer no espaço.
"Nos últimos dez anos, fecharam, num raio de 200 metros da Sirigaita, quatro associações por aumentos de renda incomportáveis ou oposição à renovação de contrato", contabiliza a associação.
Na reportagem realizada pela Lusa em outubro do ano passado, era o que já tinha acontecido, por exemplo, com o Grupo Excursionista e Recreativo Os Amigos do Minho, na Rua do Benformoso, com o Sport Club do Intendente, no Largo do Intendente, com a Crew Hassan, na zona dos Anjos.
E era o que poderia acontecer com a Zona Franca dos Anjos, a Arroz Estúdios, a Casa Independente, a Sociedade Musical Ordem e Progresso, a Academia de Amadores de Música e a Sirigaita, que agora vem exigir "soluções à Câmara Municipal de Lisboa para si e para todos os espaços não comerciais ameaçados na cidade".
Depois de ter realizado a visita guiada "Despejados Para Nada", sobre o despejo de várias associações de Lisboa na última década, a Sirigaita vai organizar "um protesto festivo" para denunciar o seu próprio despejo iminente.
Este sábado, às 15 horas, a "Parada das Indespejáveis" vai partir da Ribeira das Naus, junto ao Corpo Santo, até à Rua dos Anjos, onde a Sirigaita tem a sua sede, com "paragem de protesto" na Praça do Município, às 16 horas.
Durante o percurso, serão feitas paragens para chamar a atenção para outras associações em risco e para espaços vazios que fazem parte do património da CML e que, no entendimento da Sirigaita, poderiam albergar associações e coletividades em risco de serem despejadas nos próximos meses.
Nas redes sociais, a associação promete continuar a resistir, sem medo nem saudades: "A Sirigaita não se rende. Queremos um fado diferente!"
Em outubro do ano passado, o PCP sublinhou, em reunião da Assembleia Municipal de Lisboa, que o despejo de associações e coletividades da cidade é "um gigante problema" que "está cada vez pior", exigindo "soluções municipais urgentes e imprescindíveis".
Na mesma altura, também a deputada independente Daniela Serralha (dos Cidadãos Por Lisboa, eleita pela coligação PS/Livre) alertou que "não param de aumentar os casos de associações culturais e coletividades que estão em risco de fechar ou que já fecharam em Lisboa" e desafiou o executivo municipal a "usar o aumento da receita da taxa turística para salvar estas coletividades".