Instituição centenária do Porto revela, a partir deste sábado, o seu património. Primeira edição de "Os lusíadas" sobressai.
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Faz hoje 450 anos que foi impressa a primeira edição de "Os lusíadas", de Luís de Camões, uma das maiores obras da literatura de língua portuguesa, tendo o Ateneu Comercial do Porto na sua posse um dos melhores e mais cobiçados exemplares, raramente exposto em público. No entanto, a partir de hoje, a centenária instituição portuense inicia um programa de visitas guiadas a todo o seu acervo que contempla pintura, escultura, mobiliário, coleções de moedas e livros, entre os quais a obra de poesia épica publicada em 1572.
Desde que foi criado, há 153 anos, o Ateneu funcionou sempre como uma associação fechada, desconhecida da maior parte da população portuense, de gente ligada ao comércio e onde até as mulheres raramente entravam. Foi nos últimos anos que a atual Direção resolver abrir portas, concessionando e cedendo espaços para eventos, até para desta forma obter alguma receita destinada às obras sempre necessárias num edifício com tantos anos. E as visitas guiadas que hoje se iniciam inserem-se nessa filosofia.
"O Ateneu foi desde sempre um clube fechado, de acesso reservado aos associados e por isso há áreas que nunca foram visitadas pelo público. A minha vontade desde que sou presidente é abrir o Ateneu à cidade e mostrar o seu património que não tem sido nada divulgado", explica Rogério Gomes, presidente da Direção.
Cada peça, cada recanto, os azulejos, os espelhos, a imponente escadaria têm uma história e caberá ao investigador e guia Manuel de Sousa conduzir os visitantes ao longo dos cinco pisos do edifício, localizado na central Rua de Passos Manuel. Na sala de visitas são mostradas as coleções de moedas e condecorações com que o Ateneu foi sendo agraciado ao longo dos anos, com respetiva explicação, prosseguindo a visita para as salas das sessões e de leitura.
exemplar de qualidade única
É neste último espaço, com paredes forradas a livros, que se encontra o famoso exemplar de "Os lusíadas". "Foi editado na oficina de António Gonçalves e, no século XVII, Faria e Sousa, um investigador da obra, descobriu diferença nos vários exemplares. A mais notória envolve o pelicano do cabeçalho. Nuns está virado para a direita, noutros virado para a esquerda, para além de outras diferenças, tanto de ortografia como de pontuação", explica Manuel de Sousa.
O historiador acrescenta que "este exemplar é considerado como a versão mais autêntica, além de estar completa, uma vez que outros exemplares estão sem algumas folhas ou capa". No edifício há ainda pinturas de Malhoa, Pousão ou Alvarez, faianças originais de Bordalo Pinheiro, numismática e até uma espada do rei D. Carlos. As visitas são por marcação no site da instituição. Na primeira semana, são gratuitas, mas depois custam cinco euros.