CTT confirmam problemas na zona da Maia devido à ausência de funcionários e indicam dificuldades de recrutamento. Há queixas de correspondência entregue fora do prazo em vários concelhos.
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Os atrasos na entrega de correspondência estão a levar ao desespero quem mora no centro da Maia. Muitas contas chegam no limite, ou já depois do prazo, obrigando ao pagamento de juros. Os CTT confirmaram ao JN "a existência de alguns constrangimentos na região da Maia", sobretudo devido a infeções de funcionários por covid-19 e a "outras ausências não programadas".
"De forma a mitigar estas perturbações foram adotadas algumas medidas de contingência, nomeadamente no reforço dos recursos humanos, com ajudas pontuais, atribuição de trabalho suplementar semanal e atividade ao sábado. Os CTT preveem que a situação esteja regularizada nos próximos dias e lamentam eventuais constrangimentos que possam ter causado", referiu a empresa.
A empresa acrescentou que há "dificuldades no recrutamento de candidatos para substituição de férias", estando atualmente em curso um processo de contratação em todo o país. Aliás, as queixas quanto ao serviço estendem-se a vários concelhos. De acordo com o Sindetelco - Sindicato Democrático dos Trabalhadores dos Correios, Telecomunicações, Media e Serviços, as principais reclamações prendem-se com o atraso na correspondência relativa às contas de água, luz e gás.
Sentiram no bolso
Guilherme Carregal, que mora em Vermoim, na Maia, desconfiou que algo não estava bem quando verificou que o banco estava a cobrar juros nos pagamentos do cartão de crédito. Afinal, as cartas com os extratos não estavam a chegar. Contactou a agência bancária, que garantiu estar a enviar as missivas. Guilherme dirigiu-se ao balcão dos CTT para pedir esclarecimentos, mas não os obteve.
Também António Fernandes sentiu no bolso as consequências dos atrasos dos CTT: a conta do telemóvel chegou depois do prazo e teve de pagar já com penalização.
Cartas por receber
Carina Silva, contabilista, e António Pinheiro, de uma agência de seguros, assinalaram que muitos clientes queixam-se de que não recebem a correspondência que lhes é enviada. E que o problema não se restringe à Maia.
Há queixas de várias zonas, conforme denuncia o Sindetelco - Sindicato Democrático dos Trabalhadores dos Correios, Telecomunicações, Media e Serviços também denuncia. Aliás, o próprio secretário-geral daquela estrutura, José Arsénio, sofreu os constrangimentos associados à falta de pessoal dos CTT: recebeu uma conta da EDP com 15 dias de atraso. "Se não ligasse para lá, ia pagar uma multa por atraso", sublinhou.
José Arsénio indica que a carência de funcionários nos CTT acentuou-se a partir do mês de maio, com muitos carteiros a entrarem no período de férias.
O sindicalista aponta ainda problemas que afastam potenciais interessados: "Os salários são baixos e é preciso fazer grandes esforços. Para além disso, muitos [carteiros] sentem receio em fazer entregas em determinadas regiões, pela falta de segurança".
José Arsénio defende que deveriam ser melhoradas as condições para os trabalhadores, o que incrementaria a qualidade do serviço prestado à população. E critica o excessivo número de horas de trabalho. "Não haverá qualidade enquanto não houver funcionários aptos para o serviço", acrescentou, criticando a política de recrutamento.
"Antigamente, o carteiro era aquele em quem podíamos confiar, era respeitado", observou, por sua vez, António Pinheiro, lamentando o descrédito atual da função.
Pormenores
Privatização
Os CTT passaram a ser uma empresa totalmente privada em setembro de 2014. A operação integrou-se numa série de privatizações iniciada em 2011 e que incluiu empresas como EDP, REN e ANA .
Reclamações
No Portal da Queixa multiplicam-se as reclamações relativamente a mau serviço prestado pelos CTT. Atrasos nas entregas, desvio de correspondência e violação de encomendas são algumas das queixas apresentadas com frequência.
79 queixas por dia
No primeiro trimestre deste ano, houve cerca de 79 queixas por dia contra os CTT, de acordo com o Sindetelco - Sindicato Democrático dos Trabalhadores dos Correios, Telecomunicações, Media e Serviços. As reclamações foram apresentadas no Portal da Queixa e na Deco. O sindicato admite que a situação piore no verão, com as férias.