Na Avenida da República, em Gaia, passageiros admitem que é preciso cuidado para atravessar a linha. Mas admitem que há muita gente que arrisca.
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É um vaivém de composições. Com intervalos de aproximadamente cinco minutos, o metro ora chega a Gaia, ora parte em direção ao Porto. É a Linha Amarela, a mais procurada da rede. Na Avenida da República, apesar de seguir em canal próprio, o metro partilha o meio urbano com os carros e os peões. Os trilhos marcam o caminho por onde as carruagens passam e as passadeiras assinalam os locais onde as pessoas devem atravessar. No entanto, há quem arrisque para passar de um lado para o outro.
De fones nos ouvidos, Marcus Bettencourt chega à estação do Jardim do Morro. Fez a travessia do Porto para Gaia a pé, pelo tabuleiro superior da icónica ponte que liga as duas cidades, a Luís I. Pelo caminho, atravessou a linha do metro, sem nunca tirar os auriculares dos ouvidos. “Não costumo tirar os fones. Confio bastante nos meus olhos e olho bastante antes de atravessar”, explica o jovem, de 21 anos. Parado junto às máquinas de venda do Andante, espera pelo metro que o levará até outra estação da cidade de Gaia, embora ainda não saiba bem para onde vai.
“Chamo à atenção”
Marcus já “ouviu falar” de acidentes nas linhas do metro à superfície, mas nem isso o faz tirar os auriculares. “É um pouco perigoso, mas tem sinalização. Caso aconteça algo, é por falta de atenção”, admite.
Já Maria Oliveira, que seguiu no metro anterior a Marcus, em direção a Santo Ovídio, tem sempre “muito cuidado”. “Não é perigoso, mas se as pessoas não têm cuidado, e vêm com os fones, é claro que não ouvem o metro”, atira a gaiense de 71 anos.
As mazelas de um atropelamento rodoviário, há mais de 30 anos, não a deixam descuidada na hora de atravessar estradas ou linhas de metro, e não o faz sem ser na passadeira. “Temos de ter cuidado. Quando vejo algum idoso a passar [fora da passadeira], chamo logo à atenção, mesmo que não gostem”, afirma a passageira.
Na estação seguinte, em General Torres, Deolinda Monteiro atravessa, de olhar atento, pela passadeira. Não se desloca muitas vezes de metro, mas quando anda “está sempre atenta”. “Temos de olhar por nós, senão ninguém olha”, afirma a utente, de 79 anos, que vai de metro até São Bento, no Porto, para depois regressar a casa, uma vez que o “tempo não está muito agradável”.
“Irresponsabilidade”
As composições continuam a passar. Sempre que uma pára, entram e saem vários passageiros. Uns correm logo para o outro lado, outros esperam que o metro arranque. Do outro lado da estação, Jorge Neto observa quem passa enquanto aguarda pelo transporte. “Para quem tem consciência, não é perigoso. Mas, às vezes, vemos carros a passar aqui por cima [na linha], pessoas a atravessar e o metro a apitar. Mesmo nas estações subterrâneas, vejo pessoal a atravessar a linha, é uma irresponsabilidade”, afirma o residente de Ermesinde (Valongo), de 47 anos.