
O presidente da Câmara de Gaia, Eduardo Vítor Rodrigues
Foto: Amin Chaar / Arquivo
O presidente da Câmara de Gaia, Eduardo Vítor Rodrigues, anunciou que pondera abandonar o cargo, invocando que o procurador do Ministério Público que o acusou de uso pessoal de um veículo municipal é marido de uma autarca e dirigente do PSD.
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“Ponderarei a minha saída destas funções no decurso dos próximos tempos e dos próximos acontecimentos”, escreve o autarca socialista num extenso comunicado publicado ao início da noite desta sexta-feira, na sua página de Facebook, após considerar ser “inaceitável” a “incompatibilidade que pode enquadrar muitas coisas: as histórias inexistentes, os prazos acelerados, os argumentos que foram montados”.
Elencando vários processos de que foi sendo alvo, desde o “caso do selo”, passando pelo “caso F.C.P.” e pelo “Babel”, entre outros, Eduardo Vítor Rodrigues, que está à frente da Câmara de Gaia desde 2013, aponta o dedo à Oposição, que apelida de “gente ressabiada pela derrota que iniciou, desde o primeiro momento, o combate difamatório”.
Lembrando que os processos “pareciam estranhos” e “foram sucessivamente arquivados”, o socialista refere que “numa recente participação no canal NOW tornou-se pública a participação, até agora desconhecida, de um magistrado do Ministério Público com interesses partidários diretos a Gaia e ao PSD-Gaia, por relação familiar direta de casamento”. “Fui posto em causa por uma alegada ida à padaria com um carro municipal, um Zoe, tudo com a participação ativa de um magistrado do Ministério Público com interesses pessoais e partidários, coisa que agora se evidencia”, lamenta Eduardo Vítor, afirmando que “mandaria o básico bom-senso que o magistrado pedisse escusa”.
De acordo com o autarca, “o Procurador que representou o Ministério Público na acusação em julgamento e na resposta ao Recurso para o Tribunal da Relação do processo em que alegavam a aquisição para uso pessoal de um veículo municipal (coisa falsa, mas julgada com multa de 140€ e... perda de mandato) é casado com uma autarca do PSD de Gaia, alta dirigente do PSD-Gaia e potencial membro da lista do PSD às próximas eleições autárquicas”, o que refere ter sido “denunciado por uma funcionária judicial do Tribunal de Gaia”.
“É evidente que está em causa a idoneidade, a isenção e a credibilidade de todo o processo e das decisões tomadas, está em causa a nulidade do mesmo, bem como um conflito de interesses evidente do dito magistrado e uma inaceitável decisão em causa própria e com claro interesse próprio e pessoal”, escreve Eduardo Vítor Rodrigues, explicando que “o Tribunal da Relação alterou parcialmente a decisão, mas não a anulou, até porque a resposta ao Recurso, assinada pela referida pessoa, em representação do Ministério Público, e a sua formulação enviesada criou os obstáculos à única decisão razoável - a total absolvição”.
O autarca afirma ainda que “neste processo, iniciado com uma carta anónima, foi feito de tudo um pouco: utilização de provas nulas, criação de fatos inexistentes, assunção de interpretações arbitrárias, decisões erradas. E agora esta incompatibilidade objetiva”.
Numa publicação posterior no Facebook, reafirma a intenção de deixar de ser presidente da autarquia gaiense. “Sim, é verdade que pondero abandonar o cargo em função dos factos que foram entretanto descoberto e que relato no comunicado. Não vale tudo na política nem na vida”, reitera o autarca do PS, a pouco mais de meio ano de terminar o último mandato à frente dos destinos de Gaia.
