Elisa Ferraz, autarca de Vila do Conde, diz que não faz sentido assumir papel que já não considera ser seu.
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O convite chegou pelo correio. As comemorações do 111.º aniversário da Implantação da República em Vila do Conde seriam na terça-feira. No sábado, Elisa Ferraz, a presidente da Câmara eleita pela NAU em 2017 que perdeu as eleições do passado domingo para o PS, desmarcou todos os atos oficiais. Os socialistas criticaram. A presidente independente recusa assumir um papel que diz já não ser o seu. "Estou em transição de exercício. Não me sentia bem a assumir um cargo que já não é o meu", disse ao JN Elisa Ferraz.
A decisão chegou aos convidados sob a forma de um curto email: "O evento, para o qual recebeu convite, foi cancelado". Sem mais justificações.
A cerimónia, que se repete ano após ano, previa vários momentos. O hastear da bandeira nacional seria às 10 horas na Praça Vasco da Gama, em frente à Câmara. Seguia-se, como era habitual nos últimos anos, a intervenção da presidente e uma conferência. Depois de Pacheco Pereira em 2018, Francisco Louçã em 2019 e Alexandre Quintanilha em 2020, neste ano a palestra ficava a cargo do historiador Fernando Rosas, sob o tema "Da Crise da Primeira República ao Cinquentenário da Segunda". O evento terminaria com a romagem ao cemitério e a deposição de uma coroa de flores em memória dos republicanos falecidos.
Com o cancelamento, haverá apenas o hastear da bandeira, o entoar do hino e uma romagem informal ao cemitério.
Exige explicações
"Considero totalmente inexplicável este cancelamento e desrespeitoso para os autarcas eleitos a forma como foi feito", afirmou o deputado do PS Telmo Laranja Pontes, numa missiva já enviada ao presidente da Assembleia Municipal, Lúcio Ferreira. Laranja Pontes quer explicações sobre o cancelamento e incita Lúcio Ferreira, enquanto representante do órgão, a "tomar uma posição pública".
Inevitavelmente, o cancelamento foi associado aos resultados eleitorais. É que, nas eleições do passado domingo, Elisa Ferraz perdeu a Câmara para o PS, ela que, em 2017, depois de um primeiro mandato pelo PS, se candidatou como independente e roubou aos socialistas a Autarquia que governavam ininterruptamente há 43 anos. O novo executivo de Vítor Costa só toma posse dia 16. Até lá, Elisa Ferraz continua ao leme. Mas a autarca diz que não se sentiria bem a assumir um cargo que já não considera seu.
Detalhes
Primeiro rombo
Em fevereiro de 2020, o presidente da Junta de Vila do Conde, Isaac Braga, deixava o movimento independente NAU em rutura com Elisa Ferraz. Acabou a avançar pelo PS.
Menos votos
Elisa Ferraz perdeu oito mil votos nas eleições do último domingo. Só na freguesia de Vila do Conde teve menos três mil votos.