Os municípios servidos pela Linha do Vouga exigem que a requalificação prevista garanta um meio de transporte eficaz para passageiros e mercadorias. "Não queremos um comboio turístico", diz o presidente da Câmara da Feira. Mas o tipo de bitola a usar no "Vouguinha" continua a dividir opiniões.
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A reivindicada modernização da Linha do Vouga, que tem vindo a marcar passo ao longo dos anos, tem uma nova oportunidade de se concretizar com o anunciado Plano Ferroviário Nacional, que se encontra em discussão pública. Mas o tipo de bitola a usar na via férrea do "Vouguinha" está a dividir opiniões.
Que bitola usar na Linha do Vouga? Métrica ou Ibérica? Não há consenso e os estudos efetuados até ao momento também não apontam para uma escolha inequívoca.
Com dúvidas para sanar e na tentativa de gerar um consenso mais alargado entre as autarquias servidas pela Linha do Vouga (Oliveira de Azeméis, São João da Madeira, Feira e Espinho), a Associação de Municípios Terras de Santa Maria (AMTSM) promove, na quinta-feira, no Europarque, a conferência "A Linha do Vale do Vouga: Que futuro".
"O Plano Ferroviário Nacional está em discussão pública até ao final de fevereiro e vamos tentar chegar a uma solução de intervenção consensual", explicou, ao JN, Emídio Sousa, presidente da Câmara Municipal da Feira. O autarca adianta que, neste encontro, "estarão presentes técnicos com expectativas diferentes sobre a necessidade, ou não, de mudar para a bitola ibérica ou manter a métrica". Emídio Sousa recorda, ainda, que "há estudos contraditórios" e que a opção por uma destas bitolas se revelou "um dilema". "Ouvimos muitas versões diferentes", justificou.
No âmbito do Plano Ferroviário Nacional está a ser equacionada a manutenção da bitola métrica, assim como, entre outras intervenções, a correção de alguns pontos do traçado e a criação de um interface com Linha do Norte, em Espinho.
Emídio Sousa diz que, seja qual for a solução, terá que resultar numa linha ferroviária que servia eficazmente para "transportar passageiros e mercadorias". "Não queremos um comboio turístico". O autarca feirense tem dúvidas se a atual bitola métrica conseguirá dar resposta cabal a esta pretensão. E lembra que, "com comboios velhos, a Linha do Vouga já transporta cerca de 600 mil passageiros por ano. No dia em que for modernizada será mais competitiva e vai ser um sucesso".
"A linha só será atrativa se conseguirmos reduzir os tempos de deslocação. Ela não vai ser competitiva se demorarmos mais tempo a fazer o trajeto de comboio do que de automóvel. É fundamental que se reduza o tempo de percurso, através de intervenções como a eletrificação, a alteração dos locais de paragens e do material circulante", refere o presidente da Câmara de Oliveira de Azeméis. Joaquim Jorge assume frontalmente a escolha da bitola ibérica. Contudo, salvaguarda que "se a bitola ibérica não permitir uma redução substancial do tempo de deslocação, então não faz sentido fazer um investimento expressivo" nessa mudança.
Favorável à bitola métrica, o presidente da Câmara de São João da Madeira afirma que "a discussão em torno da bitola deve ser substituída por uma outra: a discussão do que é realista e tecnicamente possível e que corresponde ao interesse das populações".
"As indicações técnicas que ao longo dos últimos anos ouvi apontam no sentido de ser inviável converter a linha do Vouga numa linha de bitola ibérica", afirma Jorge Sequeira. O autarca diz que se está perante uma "oportunidade única e histórica para a requalificação da Linha do Vouga". "Pela primeira vez, desde há dezenas de anos, que há uma garantia de financiamento para esta intervenção". Trata-se de um total de 100 milhões de euros, sendo 85% inscritos no próximo quadro comunitário de apoio e os restantes do orçamento de Estado, explicou.
Petição pública pede ligação direta ao Porto
Esta a decorrer uma petição pública online, que conta já com mais de mil assinaturas, solicitando a "Ligação Ferroviária Direta ao Porto" da Linha do Vouga. Os peticionários referem que, a manter-se a bitola métrica, "não vai ser possível a ligação direta ferroviária ao Porto, pois a bitola da Linha do Norte é diferente. Terá que haver mudança de comboio em Espinho". Argumentam que, desta forma, "a deslocação de comboio até ao Porto não será atrativa. Continuaremos dependentes do tráfego rodoviário". "Não aceitamos que a Linha do Vouga seja a única do país com bitola diferente de toda a restante rede ferroviária nacional. Não queremos isolamento, quando o desenvolvimento futuro exige conectividade"", sustentam, ainda.
Detalhes
Investimento
A intervenção prevista pelo Plano Ferroviário Nacional custará cerca de 100 milhões de euros para o troço da Linha do Vouga, que liga Aveiro a Espinho. Mas um estudo encomendado pela Área Metropolitana do Porto e pela AMTSM prevê uma verba superior a 100 milhões de euros só para o troço Espinho/Oliveira de Azeméis, com a adaptação da via para a bitola ibérica.
Uma hora de percurso entre Oliveira de Azeméis e Espinho
De acordo com o estudo da AMTSM, entre Oliveira de Azeméis e Espinho o percurso total demora cerca de uma hora. São disponibilizados oito serviços diários de segunda a sábado e sete ao domingo. São efetuadas paragens nas estações de Oliveira de Azeméis, S. João da Madeira, Feira, Paços de Brandão e Espinho. Nos restantes apeadeiros, a paragem é efetuada a pedido dos passageiros.
Conferência "A Linha do Vale do Vouga: Que futuro?"
A conferência "A Linha do Vale do Vouga: Que futuro?" realiza-se no Europarque (Feira), na quinta-feira, pelas 17.15 horas. Contará com a presença de José Pinheiro, presidente do Conselho Diretivo da AMTSM, de Pedro Meda, do Instituto da Construção, de Alberto Aroso, especialista em Transportes e Vias de Comunicação, de Nuno Freitas, ex-presidente da CP e especialista em Transportes e Vias de Comunicação, e de Paulo Melo, diretor de Departamento de Tráfego e Mobilidade da Infraestruturas de Portugal.