Aveiro: Ribau Esteves e Alberto Souto com acusações mútuas à boleia da urbanização da Vitasal
Presidente da Câmara denuncia cunhas que antigo edil, que é de novo candidato pelo PS, tentou meter enquanto investidor imobiliário. Socialista ameaça com queixa no Ministério Público por “chorrilho de mentiras”.
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Tudo começou por a Câmara de Aveiro ter anunciado, no final da semana passada, que a empresa Civilria vai entregar à gestão da autarquia um edifício, a ser construído nos terrenos da antiga Vitasal, para ali ser instalado o Museu de Arte Contemporânea, como contrapartida pela obra de prolongamento do Canal de São Roque. Alberto Souto, antigo edil e atual candidato a líder do município pelo PS, ironizou o acordo entre a Câmara e o investidor privado, falando em “filantropia rara”, que “seria medalha de ouro merecida”. Ribau, presidente da autarquia, entendeu que as palavras do socialista levantam “suspeições graves e absurdas a instituições e pessoas”, denunciando publicamente que Souto já tentou meter-lhe cunhas, por SMS, enquanto investidor imobiliário.
Numa publicação na sua página de Facebook, datada de sábado, Alberto Souto afirmou ser “surpreendente” a notícia “de que o investidor [Civilria] doará ao município um imóvel de dez milhões, para um museu”, alegando tratar-se de “filantropia rara”, que “seria medalha de ouro merecida”. “Ou será que, mais uma vez, o senhor presidente não explicou bem as contas?”, questionou o antigo presidente da Câmara, acrescentando que, no seu entender, “estamos perante outra oportunidade perdida para conseguir negociar mais habitação acessível”.
Em causa está a urbanização que a Civilria pretende construir nos terrenos da antiga Vitasal, composta por três prédios de habitação, um hotel e um quinto edifício, que será entregue à autarquia, para ali criar um novo museu. Para beneficiar o investimento, a Câmara vai prolongar o Canal de São Roque, uma obra cujo abertura do concurso público já foi aprovada, com um valor base de três milhões de euros. Ribau Esteves, adiantou, também, que o prolongamento vai permitir “um aumento da capacidade dos canais urbanos, que funcionam como bacia de retenção”, ajudando a evitar cheias em caso de chuva intensa.
“Pressão a funcionários da Câmara”
A resposta de Ribau Esteves às palavras de Alberto Souto não se fez esperar. Esta segunda-feira, em comunicado, acusou o candidato socialista de “tentar perturbar o trabalho da Câmara e dos investidores privados com a sua campanha eleitoral desfocada dos seus reais adversários”, recordando que Souto é “operador/investidor imobiliário no município, em nome individual e pela sua empresa Alfabeto Salgado”.
Ribau Esteves apelidou Souto de “um pequeno investidor imobiliário que procura ultrapassar e não cumprir as regras, com tentativas de aprovações diretas, com SMS ao presidente da Câmara e ações de pressão a funcionários” da mesma. E apontou-lhe o dedo por escolher “o mau caminho, o de lançar suspeições sobre os outros”, sugerindo-lhe, ainda, que, enquanto investidor imobiliário, invista em habitação acessível, “em vez de apenas investir no setor médio e médio-alto”.
O edil em funções, que atinge este ano a limitação de mandatos, deixou ainda claro que “a ânsia e a luta de poder da família Souto Miranda, ao nível económico e político, não vai perturbar a governação da Câmara de Aveiro”. Pelo PSD, o candidato às eleições autárquicas deste ano é Luís Souto, irmão de Alberto Souto – uma escolha inesperada da Comissão Política Nacional do partido, que levou à demissão de três pessoas, entre as quais Ribau Esteves, da concelhia aveirense.
Assunto “segue para advogado”
Em declarações ao JN, o candidato do PS considerou “lamentável” o discurso de Ribau Esteves. “Já foi condenado uma vez por mentir e a conversa seguirá para o meu advogado e Ministério Público”, garantiu Alberto Souto. “Em vez de responder com factos e documentos que expliquem a operação, que, segundo ele, permite à Câmara receber um imóvel de dez milhões de euros, resolve fazer um comunicado com insinuações e um chorrilho de mentiras”, afirmou o socialista, aconselhando Ribau a “procurar sair com dignidade, em vez de ofender o bom nome das pessoas”, depois de ter sido “humilhado no processo de escolha dos candidatos”.