Partiu em outubro de 2023 com o objetivo de dar a volta à Europa. Até agora já visitou 21 países dos 42 por onde planeia passar.
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Henrique Pereira (Riicky Odissey, nas redes sociais) chegou, sexta-feira, à Turquia, o 21.º país por onde passa, depois de ter saído de Guimarães no dia 5 de outubro de 2023. Quando chegar à capital, Istambul, já terá ultrapassado a marca dos dez mil quilómetros, sempre a pé, a empurrar o carrinho em que carrega tudo o que leva para ser autossuficiente nesta volta à Europa. Em número de países visitados a viagem vai a meio, mas em termos de quilometragem, ainda restam mais 18 mil para cumprir o objetivo.
Para entrar na Turquia, Henrique Pereira enfrentou mais um revés, como tantos outros que não o fizeram desistir. “Queria entrar a partir da Grécia, depois de ter visitado este país de que gostei muito e onde as pessoas foram muito simpáticas para mim. Mas, quando cheguei à fronteira, disseram-me que a lei não permite que se atravesse a pé”, contou ao JN. “O ridículo é que se fosse de bicicleta já podia atravessar”, referiu. Ainda tentou um segundo posto de fronteiriço, a 100 quilómetros de distância, mas o resultado foi o mesmo.
Para poder cumprir com o plano de ir até Istambul, onde estreito do Bósforo marca divisão entre a Europa e a Ásia, Henrique Pereira teve de voltar à Bulgária, onde já tinha estado, para cruzar a fronteira a partir desse Estado. "No total, foram cerca de 200 quilómetros a mais que tive de percorrer, com a Turquia à vista, mas sem poder atravessar".
Vontade de conhecer mundo
Desde que um desejo de conhecer o mundo o levou a partir de Guimarães, em outubro de 2023, Henrique Pereira já pôs o pé em 21 Estados: Portugal, Espanha, França, Mónaco, Itália, Vaticano, San Marino, Eslovénia, Croácia, Áustria, Eslováquia, Hungria, Sérvia, Bósnia-Herzegovina, Montenegro, Albânia, Kosovo, Macedónia, Bulgária, Grécia e agora Turquia. “Queria conhecer mundo. Percebi que com os salários que ganhamos em Portugal, se estivesse à espera de ter condições para o fazer, isso nunca ia acontecer. A única forma de cumprir o objetivo era pôr-me ao caminho a pé”, conta.
Henrique viaja com tudo o que precisa para se sustentar num carrinho. Inicialmente era um trólei de viagem, “mas esse perdeu uma roda quando ainda estava a atravessar a serra da Estrela”. O trólei ainda chegou a Espanha, mas teve de optar por uma solução mais resistente. Tenda, painel solar para carregar o telefone e o computador, fogão a gás, roupa (pouca), água e comida, é tudo o que leva consigo. Mesmo assim já o tentaram assaltar inúmeras vezes: “a última foi no Kosovo, a primeira foi logo em Badajoz”. Neste aspeto, a passagem pela Macedónia foi terrível: “Tentaram assaltar-me cinco vezes, se não tivesse gás pimenta tinha ficado sem nada”, recorda.
Uma vez que vai acampando nos locais onde está, quando chega ao fim de cada jornada de caminhada, muitas vezes dorme em locais inóspitos, em florestas e montanhas. Já teve de enfrentar matilhas de cães e varas de javalis. Na passagem pela Macedónia, depois de uma noite passada nas montanhas, foi acordado pela polícia que lhe disse que andava um urso naquela zona.
Automobilistas são uma ameaça
Os condutores sem escrúpulos são outro dos desafios diários para o caminheiro. Em França, foi atropelado. Não sofreu lesões graves, mas ficou com o carrinho, indispensável para prosseguir, num caco. “O condutor pôs-se em fuga. Podia-me ter matado, mas não quis saber”, lembra. Para repor o carrinho, teve de recorrer aos seus recursos financeiros, sempre curtos, já que partiu sem ter nenhum apoio, além de pequenas ajudas da família e as suas economias, que já se esgotaram.
Pelo caminho, contudo, confessa que tem encontrado muita gente boa que o ajuda, que lhe dá comida e até, por vezes, alojamento. Depois de ter enfrentado o frio extremo do inverno na Sérvia, Bósnia, Montenegro, Albânia, Macedónia e Kosovo, nos últimos tempos o problema foi o calor abrasador na Grécia, “onde as pessoas são maravilhosas, mas os condutores são os mais perigosos que já conheci”.
Henrique Pereira planeia regressar a Guimarães, depois de visitar mais 21 países europeus, ao longo de 28 mil quilómetros, sempre a caminhar, lá para o primeiro semestre de 2028.