Lisboetas "expulsos" voltam a casa para trabalhar nos arraiais e animar turistas. Noite grande é amanhã.
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De tronco nu tatuado, chapéu cinzento na cabeça e mãos que, atrás de uma bancada ao ar livre num pequeno largo de Alfama, não deixam um segundo de lavar centenas de caracóis para que fiquem prontos a ir para a panela, Manuel Ferreira, de 60 anos, podia ser apenas mais uma ilustração da festa dos santos populares de Lisboa. Mas nada neste homem, nem o seu "bairrismo", é fingido, sobretudo a dois dias da grande noite: amanhã, desfilam as 20 marchas a concurso na Avenida da Liberdade e há arraiais por toda a capital até nascer o sol do dia de Santo António.
"Quando me perguntam de onde sou, não tenho vergonha de dizer que sou de Alfama", avisa, mais um entre tantos ali nascidos e criados que, nos últimos anos, acabaram por ser obrigados a mudar-se do seu bairro para a periferia de Lisboa. Alguns, como Manuel Ferreira, quiseram dar mais saúde à filha - "a casa era pequena e só tinha uma janela". Outros, como Marco Matias "Catatau", de 55 anos, foram "expulsos", porque o prédio onde viviam foi comprado para ser um alojamento local. Em junho, todos regressam ao bairro de sempre para animarem turistas portugueses e estrangeiros.