“O orgulho da cidade somos nós!”. Os gritos entoavam bem alto entre a claque do Bairro Norte, à entrada da Praça do Almada, na Póvoa de Varzim. A meia dúzia de passos, no largo do Correio, a claque do Sul lançava tochas e fumo verde. Cores diferentes, o mesmo amor às festas de S. Pedro.
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Na Póvoa, o santo pescador é sinónimo de casa cheia, festa na rua, tricanas a desfilar, muita sardinha assada e bailaricos um pouco por toda a cidade.
“Já os meus pais abriram as portas a toda a gente na noite de S. Pedro. Eu, a assar sardinhas, já estou há 25 anos. Oferecemos sardinhas, broa e vinho a todos os que nos visitam”, conta Cláudia Gomes, que ali, na rua António Graça, junto ao trono do Bairro Norte, todos conhecem por Bela. Na casa dos “do Adélio”, nesta noite, há mil sardinhas para assar. Trabalham pais, filhos, sobrinhos e o resto da família segue na rusga. Tudo em nome da tradição. Na principal rua do norte, às 21.30 horas, já se anda com dificuldade, dada a enchente e os muitos bailaricos a cada esquina.
No Sul, o grande rival, Sílvia Pinheiro segura ao colo a neta. Aos 16 meses, a pequena Francisca já vive intensamente a grande festa do santo pescador e nem as tochas a assustam. Ainda não segue na rusga, mas já é tricana vestida a rigor: blusa de renda branca, saia travada preta, chinela de lustro e o cabela preso num puxo. Só o avental é inusitado: sendo a mãe do Regufe e a avó ferrenha adepta do Sul, foi dividido a meio. “Ficou metade de cada bairro. Assim é dos dois”, diz a avó, largando uma gargalhada. Um dia, há-de ser Francisca a decidir o bairro do seu coração, mas uma coisa é certa: qualquer que seja a cor, o bairrismo característico do santo pescador, já lhe corre nas veias. “É este bairrismo que faz do S. Pedro uma festa diferente”, frisa.
Em frente ao trono da Matriz, Bruno Graça não larga o assador: “É espetacular. É o convívio, é ganhar novos amigos, ver amigos antigos, que vêm comem uma sardinha, bebem um copo de vinho. É uma festa única”, atira. Ali, a sardinha também é oferecida a quem passa. No final, cada um deixa o que quiser para ajudar a associação que dinamiza as festas do bairro mais antigo da cidade. Maria Fernanda Silva garante que a sardinha estava “espetacular” e a festa, garante, é “maravilhosa, linda mesmo”.
Carlos André é um dos que está sentado à mesa. É brasileiro e, recentemente a viver no Porto, veio passar o S. Pedro à Póvoa. A festa é “bem diferente” das da sua S. Paulo do coração, mas já o encantou com “todos na rua a comer, a dançar e a cantar” e, depois, há as sardinhas, esse petisco “absolutamente maravilhoooso”.
O resto da noite, vai ser passado no formato mais “clássico”: de bairro em bairro, a ver as rusgas e os tronos ao santo pescador, a comer sardinhas, acompanhadas por uma malga de vinho, entre os muitos bailaricos populares.
Esta quinta-feira, e porque na Póvoa o S. Pedro é a dobrar, há nova noitada. Desta vez, há festa nos seis bairros da cidade e, em vez do desfile pelas ruas, cada um atua na sua “casa”.