Obras nos bairros sociais de Braga deram uma nova vida a algumas famílias. Mas há críticas.
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Gabriel Mutosa, 37 anos, olha sorridente para o prédio onde vive no bairro das Enguardas. O edifício está de cara lavada, com a tinta branca a reluzir, caixilharias e janelas novas e, no interior, apartamentos agora apetrechados com mobiliário mais moderno. Fruto das obras de reabilitação de 5,5 milhões de euros que o Município de Braga está a promover nos bairros sociais, o morador diz que "[saiu] de um chiqueiro para ir para um palácio". Mas, tanto nas Enguardas como em Santa Tecla, há quem aponte críticas ao material usado, à humidade que já começa a aparecer nas paredes, falhas nos intercomunicadores e divisões inadequadas para pessoas com mobilidade reduzida.
Rosa Teixeira, há mais de 40 anos nas Enguardas, não esconde o mal-estar com a retirada das persianas da cozinha, que a protegiam do sol. Também lhe desagrada "a tijoleira branca", a "banca da loiça mínima" e "as portas menos seguras". Joaquim Monteiro diz que, em menos de um ano, já teve de "trocar a torneira da cozinha, porque vertia" e "o intercomunicador para a rua não funciona". Lucinda Maia, com deficiência física, não consegue subir a banheira para tomar banho e mal pode sair à rua, porque "falta um corrimão" para descer os quatro degraus até ao passeio.
Gabriel Mutosa escuta alguns dos lamentos dos vizinhos, mas não se junta ao coro de críticas. Com as obras de reabilitação, a sua família, um total de seis pessoas que vivia num T2, pôde mudar de bloco e transferiu-se para um T4. "As crianças passaram a ter um quarto", regozija-se, assumindo que a filha de 16 anos "já tem problemas nas costas" por ter dormido sempre no sofá.
"Estou muito contente agora", frisa o morador, partilhando da mesma felicidade de Tília Ribeiro que, aos 70 anos, deixou o bairro do Picoto para morar num dos renovados apartamentos das Enguardas. "Não se comparam estas casas. Nem tinha luz no Picoto", recorda a septuagenária, enquanto ganha algum fôlego para voltar a carregar o saco das compras.
Opiniões dividem-se
Em Santa Tecla, as opiniões também divergem quanto às remodelações. Se para Emílio Salazar "as obras foram uma lufada de ar fresco", para Felisberta Salazar, por exemplo, há pormenores a acertar. "Puseram cal nas paredes, não foi tinta. Continuam com rachas. E não temos saídas para os cheiros da cozinha", assevera, enquanto aponta para a falta de um exaustor ou outro material de extração. Na porta ao lado, Dinis Cabreiras assume que ficou indignado com a retirada dos seus móveis da cozinha por outros "mais pequenos".
Gerido totalmente pela empresa municipal BragaHabit, o bairro de Santa Tecla, com quase 500 habitantes, deve ter as obras concluídas até ao final do ano. Além da intervenção nos prédios, estão previstos espaços de lazer, zonas verdes e uma nova via de trânsito de velocidade reduzida. Para isso, está prevista a demolição de uma torre habitacional.
Nas Enguardas, apesar de só quatro blocos serem geridos pela empresa municipal, o presidente da Câmara, Ricardo Rio, promete apoiar a requalificação exterior dos edifícios privados, num compromisso que assumiu com a associação de moradores.
"Agora, é preciso trabalhar em ações de sensibilização para que tomem conta das casas e não as estraguem. Eu já aproveitei a ronda dos Censos para isso", conclui o dirigente associativo, António Araújo.