Barcos têm chegado à lota com quantidades máximas permitidas. Peixe médio, mas gostoso e com preço de um euro por quilo. Boas perspetivas para ano que deve bater recordes na quota.
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Ainda não é "aquela" sardinha, mas já é "grandinha e gostosa". Na primeira semana da safra, os barcos chegaram quase sempre cheios à lota de Matosinhos. Quem por lá anda diz que "há muita sardinha no mar" e não têm faltado compradores. Um euro por quilo na lota, 2,5 euros à porta, preços que devem subir com a chegada dos santos populares.
"Não é ainda a sardinha que nós queríamos - aquela gorda -, mas é boa e já tem tamanho para se comer assada", garante Francisco Correia. O "Miguel Alexandre" acaba de atracar no cais. É "hora de ponta" na Lota de Matosinhos. Os barcos fazem fila. No cais, os pescadores separam o peixe, enchem os cabazes, cobrem com gelo, carregam os empilhadores, limpam tudo. O trabalho é "corridinho", feito sem parar, que é preciso descansar para voltar ao mar à noitinha.
Este ano, a esperança é grande. Até 31 de julho, há dez mil toneladas para pescar. A expectativa é que, até outubro, possa ultrapassar as 20 mil - e até chegar às 30 mil (ler caixa) - e duplicar as capacidades de captura de 2020. Desde 2013 que não se via uma quota tão alta, mas, para quem anda no mar, o aumento das possibilidades de captura só peca por tardio.
"Falai, mas continuai a trabalhar", atira o mestre, sorrindo. A fartura dos últimos dias deixa a tripulação animada. "Graças a Deus, temos trazido sempre "a conta" [os 132 cabazes permitidos para barcos com mais de 16 metros]. Não falta sardinha no mar", continua a contar. Foram quase oito meses de paragem na pesca da sardinha, um "rombo" para as artes do cerco a quem, desde outubro, restava o carapau e a cavala - com baixo preço no mercado - e a sorte de encontrar algum biqueirão.
Para muitas embarcações, a sardinha é quase metade do rendimento anual e, nos últimos anos, os sucessivos cortes na quota obrigaram a longas paragens forçadas e fizeram "mossa" nos orçamentos de muitas famílias. "As capturas têm sido regulares. O tamanho ainda não é o desejado, mas a qualidade é boa e há muita sardinha", diz Agostinho Mata, o presidente da Propeixe - Cooperativa de Produtores de Peixe do Norte, que agrega 30 barcos da pesca do cerco, a trabalhar em Matosinhos e em Peniche. A julgar pelos primeiros dias, salienta, a época promete: boas capturas, perspetivas de um "recorde" na quota, procura à altura do desafio.
"Já pinga no pão. É boa!", garante Fábio Casal, o contramestre do "S. João Baptista". Esta semana, em lota, rendeu, em média, um euro por quilo. "Atendendo ao tamanho, é um preço razoável", admite Fábio. Agora, é esperar que a sardinha comece a ser maior e que, com os santos populares à porta, o preço comece a subir.
"Ainda é "torneira". Vem pequena e grande misturada", explica António Braga, pescador no "José Dinis". Mas a verdade é que compradores não faltam: umas vão para Espanha para a conserva, outras para os restaurantes, as peixarias ou os comerciantes de peixe.
"Não se pode deixar queimar, mas está gostosa", garante Felicidade Neves, que tem banca no mercado de peixe da Docapesca. A filha, Andreia, espera que os santos tragam mais procura, porém, para os primeiros dias, "tem-se vendido".
Cabaz na mão, Maria José Lopes vende ali, à porta da lota, "há 31 anos". Por estes dias, o negócio corre bem. "É a cinco euros o quarteirão (25 sardinhas, dois quilos). Tá barata!", diz, sem hesitar. Quem compra garante que é boa e não faltam clientes. "Foram quase oito meses sem sardinha. As pessoas já tinham saudades", remata a peixeira.
Stock
Pescadores querem 30 mil toneladas
Em 2020, a quota da sardinha em Portugal ficou-se pelas 12 705 toneladas. Depois de quase dez anos a apertar o cinto, os pescadores queriam mais. Garantiam haver "muita sardinha no mar" e os cruzeiros científicos confirmavam: o stock cresceu 66% entre 2019 e 2020 e, em novembro, o IBERAS0920 concluiu que, desde 2005, não nascia tanta sardinha na Península Ibérica. Este ano, os pescadores exigem "um aumento a sério". Para já, serão 10 mil toneladas, mas o ministro do Mar, Ricardo Serrão Santos, já admitiu que pode chegar às 20 mil. "Menos de 30 mil não me parece que seja entendível", diz o presidente da Propeixe. E há procura para tanta quota? Agostinho Mata crê que sim: é petisco nas casas e restaurantes e, com mais sardinha, "haverá oportunidade para a indústria da conserva", que, nos últimos anos, foi obrigada a virar-se para outros mercados.