<p>O primeiro-ministro, José Sócrates, lança, hoje, em Oliveira de Frades, a primeira pedra da Barragem de Ribeiradio. Em Sejães, que verá terras produtivas e uma ponte secular submersas, faz-se como S. Tomé: ver para crer!</p>
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"Há quase 70 anos, já o meu avô hospedava, em sua casa, um engenheiro que projectava uma barragem tão grande, tão grande, que riscava do mapa esta pequena aldeia. Em 2001, o então titular da pasta do Ambiente, actual primeiro-ministro, veio a Sever do Vouga lançar a primeira pedra de um equipamento que ficou a meio do caminho. Gastaram-se milhões. Amanhã [hoje] regressa. Será que à terceira é mesmo de vez?!", interroga, céptico, José Manuel Vieira, autarca em Sejães, Oliveira de Frades.
Presidente de uma das mais pequenas (e afectadas) freguesias dos três concelhos (Oliveira de Frades, Sever do Vouga e S. Pedro do Sul) implicados na construção do equipamento, que vai produzir energia e regularizar caudais no Baixo-Vouga, José Vieira defende a sua dama.
"O projecto é desejável e pode até ser muito vantajoso. Mas devia envolver e respeitar os proprietários que, há décadas, têm o seu desenvolvimento condicionado pela promessa desta barragem", avisa o autarca.
O equipamento que José Sócrates lança esta manhã, em Ribeiradio, foi projectado com uma cota de 110 metros e terá quase toda a sua albufeira no concelho de Oliveira de Frades.
"Vai afundar a ponte Luís Bandeira, a segunda ligação rodoviária construída no país, em betão armado, que ainda se mantém em funcionamento, e destruir os melhores terrenos agrícolas. Propriedades que o Estado quer expropriar a 50 e 60 cêntimos o metro quadrado. Como se não bastasse tudo isto, esta obra ainda impõe condicionantes de vária ordem nos 500 metros acima do nível de água", lamenta José Vieira.
"A laranja desta região vai ser afectada e a nossa praia fluvial desaparece", corrobora António Fernandes, outro habitante de Sejães.
Verões secos, exposição de lamas, nevoeiro e mosquitos, são outras tantas preocupações. "Somos uma gota de água no oceano com os nossos 229 eleitores. Mas esperamos ser ouvidos neste processo", conclui o autarca de Sejães.
Mais adiante, em Pinheiro de Lafões, José Soares dos Santos ironiza: "A barragem? Nem daqui por 200 anos. O rio Vouga leva as primeiras pedras na corrente e fica tudo na mesma". Já Fernanda Correia, de um café em Ribeiradio, solta uma quase prece: "a A25 roubou clientela nesta zona. Ficou tudo às moscas. A barragem pode ser a tábua de salvação". "É uma grande obra. Só esperamos que seja mesmo para avançar de vez", concorda José Dimas.