"Comecei a ouvir um estrondo e até pensei que se passava qualquer coisa com o carro, mas, quando olhei para a frente, vi aquilo tudo a desabar.
Corpo do artigo
As faíscas no ar, os ferros a baterem uns nos outros, o barulho, os estrondos, as pessoas a cair, a agarrarem-se aos ferros e a atirarem-se para o lado..." As palavras são de Vasco Rafael, vendedor de automóveis, que, por pouco, escapou ileso à derrocada do viaduto em construção no IP4, anteontem à noite, quarta-feira, em Geraldes, Amarante.
É precisamente naquele concelho que Vasco Rafael mora e, por isso, passa no local do acidente várias vezes por dia. A meio da tarde de ontem continuava incrédulo com aquilo que disse ter sido a "sorte" de escapar ao desmoronamento, quando regressava a casa. "Foi tudo muito rápido. Apareceu um fumo pelo meio dos ferros. A senhora que ia à minha frente num Ford Focus, uma médica veterinária de Vila Real, sentiu-se mal. O homem, de Lamego, que ia mais à frente, num Opel Astral, ficou sentado no carro com as com as mãos na cabeça", recordou o condutor..
Dos momentos de pânico no IP4, Vasco Rafael retém a imagem de um técnico da obra que, de telemóvel na mão, ligava para todo o lado a pedir socorro, metia o telemóvel no bolso e continua a falar, como se continuasse ao telefone. "Foi tudo muito violento", desabafou.
Vasco Rafael procurou refazer os momentos da tragédia: "Dois segundos mais cedo e ficávamos lá esmagados. Sei lá... vínhamos a 60, 70, 80 quilómetros por hora. Não sei. Por aí. Do nosso lado, no sentido Porto/Vila Real, sabíamos os três que ninguém tinha ficado por baixo o viaduto. Do lado contrário, não sabíamos".
O comerciante contou que ainda teve sangue frio para fazer "marcha-atrás" com os "quatro piscas" ligados para assinalar o corte da via a outros condutores.
Vasco Rafael reconheceu que o IP4 está complicado ao nível da circulação, mas nunca lhe passou pela cabeça que pudesse acontecer um acidente do género. "Andamos todos os dias a queixarmo-nos disto e daquilo, mas quando somos confrontados com um caso destes é que nos apercebemos da sorte que podemos ter", concluiu.