Compatibilizar o turismo com a preservação do ecossistema das Berlengas é o objectivo de vários projectos que pretendem tornar a ilha auto-sustentável na produção de energia, no tratamento dos efluentes e do lixo.
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A associação "Berlenga - Laboratório de Sustentabilidade", constituída por 12 organismos públicos e privados, tem vindo a realizar experiências na ilha, como a instalação de painéis solares, para vir a dotar a Reserva Natural de capacidades de geração e armazenamento de energia a partir de fontes renováveis.
As iniciativas da associação constam do dossiê de candidatura das Berlengas a reserva da Biosfera a ser entregue nos próximos meses à UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura).
Actualmente, só os três geradores existentes na ilha consomem 15 mil litros de gasóleo por ano, o equivalente a 40 toneladas por ano de dióxido de carbono, e os efluentes são deitados ao mar sem qualquer tratamento. A ideia é produzir água potável, tratar as águas residuais e reduzir e reutilizar os resíduos sólidos urbanos a transportar para terra.
A Câmara de Peniche, que integra a associação, espera colocar nas Berlengas, até ao início desta época balnear, um compactador de resíduos (para diminuir o volume do lixo) e um tamisador para o tratamento de águas residuais. No Bairro dos Pescadores já funcionam painéis solares que asseguram a energia aos funcionários da Câmara e da Reserva Natural. Estas acções e a futura definição de qual a melhor solução para a produção de energia - fotovoltaica ou eólica - deverão diminuir os impactos da presença humana (sobretudo nos meses do Verão), considerada excessiva para aquele pequeno território com 4 quilómetros de perímetro.
"O objectivo desta classificação é como ter uma Bandeira Azul numa praia", explicou à Lusa Henrique Queiroga, do departamento de Biologia da Universidade de Aveiro e coordenador do dossiê de candidatura. "O que se pretende é que haja uma utilização da reserva como um território natural de qualidade indiscutível", sublinhou por seu lado Sofia Castel Branco, directora da Reserva.
Entretanto, o airo das Berlengas, uma ave semelhante a um pequeno pinguim que escolhia as Berlengas para nidificar, e onde aparecia às centenas, está em extinção acelerada: este ano só foram avistados quatro exemplares. As causas para o desaparecimento são, segundo os especialistas, a pressão exercida pelas milhares de gaivotas, as redes de emalhar, fatais para as aves que passam muito tempo no mar e também o aquecimento do planeta.