O bispo da Diocese de Viana do Castelo, D. João Lavrador, afirma que a decisão de afastamento imediato do padre André Gonçalves de seis paróquias de Monção e de entregar o caso às autoridades da Igreja e judiciais, após receber uma denúncia por abusos sexuais de menores, foi tomada no estrito cumprimento da lei canónica e que, se não o tivesse feito, ele próprio seria afastado do cargo
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Esta quinta-feira, na sua residência, durante uma sessão de apresentação da mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, o prelado contou que, quando foi confrontado com a denúncia feita pela alegada vítima [um jovem de 16 anos] e pela sua família, a 20 de janeiro, o pároco visado, de 40 anos, "confessou os factos e manifestou intenção de abandonar o sacerdócio".
D. João Lavrador informou que o culto nas antigas paróquias daquele sacerdote (Bela, Cambeses, Sago, Longos Vales, Abedim e Portela), passará a ser assegurado, em alternância, por outros párocos de Monção. E mostrou-se surpreendido com a posição da população que, nas missas do passado sábado e domingo, chegou a insultar e voltar as costas ao padre João Basto, que substituiu André Gonçalves.
"Com tanta informação na comunicação social, até com situações que tem aparecido em público de encobrimento, as pessoas deviam estar alertadas que o bispo da Diocese quando recebe uma denúncia não lhe compete ajuizar, mas fazer o processo para que as instituições façam o seu juízo", declarou, acrescentando que, "neste momento, a norma diz: se o bispo não cumprir escrupulosamente com todos os itens que lá estão, que foi o que fiz, é afastado da Diocese. Se na parte civil, não comunicar, é incriminado".
Consulta à Santa Sé
Adiantou que após "consulta à Santa Sé" recebeu orientações para suspensão imediata do pároco, até que aquela mesma entidade, julgue o processo canónico, cujo desfecho poderá passar pelo afastamento definitivo de André Gonçalves ou pelo arquivamento, como aconteceu, recentemente, com o padre de Massamá, Sintra, readmitido após a Igreja arquivar uma acusação de abuso.
Recorde-se que os alegados abusos sexuais foram tornados públicos pela própria Diocese de Viana do Castelo a 23 de janeiro, através de um comunicado enviado aos órgãos de comunicação social e publicado nas redes sociais.
Nas antigas paróquias de André Gonçalves, paroquianos acusam o Bispo de "expor ao vexame e destruir a família" do padre.
"Eu não podia fazer outra coisa. Fi-lo agora e farei sempre. Não só por uma questão de lealdade, sou leal à Igreja e aos seus princípios, e porque sou cidadão e tenho responsabilidade na sociedade onde vivo", declarou D. João Lavrador, referindo que "estamos em tempo de ser transparentes".