Quem passar pelo Bolhão na tarde desta sexta-feira encontra uma oportunidade única. O renovado mercado do coração do Porto está a preparar-se para a festa de S. João, convidando toda a gente a meter a mão na massa - no caso, no barro - e assim contribuir para a cascata que, em breve, estará em exposição no primeiro piso. Apanhados de surpresa, os turistas não se fizeram rogados.
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Uma das filhas de Tabea Funke ia lavada em lágrimas quando chegou ao cimo das escadas. Coisa de crianças, o aborrecimento logo lhe passou ao perceber que havia ali coisas divertidas para fazer. Para miúdos e graúdos, já que o convite é dirigido a todas as idades. Tal como esta família alemã, muitas outras pessoas podem construir casas a partir do barro, numa iniciativa da Câmara em parceria com a Oficina Brâmica. Objetivo: deixar a sua marca na tradicional cascata sanjoanina que vai estar em exposição a partir do dia 20.
Dada a localização do mercado, a inspiração para a maioria destes artistas ocasionais está ali ao lado, na Rua de Alexandre Braga. Por isso vemos réplicas de prédios com os frisos e revestimento em azulejo e varandas em ferro. Mas a cascata terá muito mais do que isso. Maior a cada ano que passa, nela costumam figurar emblemáticos edifícios da cidade, como a Casa da Música ou a Torre dos Clérigos. Mas também coretos e fontanários, ovelhas, manjericos e, claro, o S. João.
Tabea Funke não terá oportunidade de ver a cascata, pois a estadia no Porto é curta. Na cidade pela segunda vez - a primeira foi há dez anos, em trabalho -, agora com o marido e as duas filhas, a socióloga de Estugarda apercebeu-se bem da "renovação da cidade" e, ao entrar no Bolhão, encontrou uma forma de se entreter com as filhas, moldando o barro.
Também apanhada de surpresa, Gülgün Alpan não quis despedir-se da cidade sem "deixar alguma coisa no Porto". Natural da Turquia mas a viver em Grenoble, França, a professora universitária ficou com pena por não poder participar na festa. "Estava a passar no mercado e vi o anúncio de um workshop de cerâmica. Uma jovem explicou-me o projeto e eu gostei". Foi quanto bastou para dar o seu contributo à construção comunitária que estará em exposição no mercado até 1 de julho.
Quem sabia da oficina e até chegou à hora de abertura foi Elsa Oliveira, natural do Porto e a viver em Valongo. "Gosto muito de trabalhos manuais. Não sabia que era para a cascata, mas, ao saber, tornou-se ainda mais interessante", contou ao JN esta gestora de projetos de formação. Das suas mãos saíram duas casas e uma igreja. "Se pudesse, ficava para a parte da tarde", disse ainda.
A Brâmica é parceira habitual da Autarquia na construção da cascata comunitária desde 2017. Para a edição deste ano, Teresa Branco, coordenadora destas oficinas, já passou nas escolas básicas da Torrinha e da Pasteleira, de onde saíram mais de duas centenas de casas em miniatura. Vão juntar-se às do Bolhão e ainda às que resultarem de mais duas sessões na Oficina Brâmica (Rua de Santo Isidro), marcadas para os dias 13 e 14. Quem passar no mercado até às 18 horas desta sexta-feira, pode participar sem inscrição, mas para os outros dois ateliers é necessário agendar, através do email termarbranco@gmail.com.
A cascata irá ocupar uma área de 8x2 metros e terá mais de 1500 casas e outras figuras. Mas ainda há muito trabalho pela frente. Depois de modeladas a partir de uma base em grés previamente ocada, as peças serão pintadas com engobe (barro com 2% de vidrado e corante) e seguem para o forno, para uma monocozedura a 1020 graus.
"Aqui só damos a estrutura e cada um faz de acordo com a sua criatividade. Sabem que é para a cascata de S. João", conta Teresa Branco ao JN, acrescentando que a cascata vai tendo "pelo menos 200 figuras a mais, a cada ano". Quanto ao número de pessoas envolvidas, a estimativa deste ano é que rondem as 400. Estas oficinas são o espelho do trabalho desenvolvido na Brâmica: "Levar as pessoas comuns a ser participantes, a não serem só espectadores. Podem materializar a sua expressão artística".