Pandemia e reconhecimento da UNESCO resultaram em 182 marcações este ano. Verão cheio de casais emigrantes e estrangeiros.
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Ana Rita Ferreira, 25 anos, é natural de Braga, mas está emigrada desde os seis anos. Nélson Fonseca, 32 anos, filho de pais emigrantes, saiu da Póvoa de Lanhoso ainda recém-nascido. Estão ambos a viver em Zurique, na Suíça, onde se conheceram, mas na quinta-feira voltaram às origens para selar, com o casamento, uma união de seis anos. Escolheram o Bom Jesus do Monte, em Braga, instância religiosa classificada como Património Mundial da UNESCO que, este ano, se orgulha de bater um recorde de casamentos, com 182 marcações.
"Sempre que vimos a Portugal, passamos pelo Bom Jesus para ter uma vista sobre Braga. Casar aqui era o sonho dela, desde pequena", confidenciou Nélson Fonseca, sublinhando que, além do local ficar a meio caminho entre as localidades das duas famílias, é um espaço "diferente" daquilo que os amigos internacionais estão habituados a ver. "Temos amigos da Sérvia, por exemplo, e lá não há nada como o Bom Jesus", referiu o noivo, ao JN, antes da cerimónia que, na quinta-feira à tarde, foi vista por convidados, mas também por muitos turistas que passaram pela basílica.
João Alves, reitor do Bom Jesus, adiantou que, nos meses de verão, o lugar é ocupado, sobretudo, por casais emigrantes, mas também estrangeiros que se apaixonam pela instância em visitas turísticas. "No próximo sábado, temos um casal alemão. Um deles nem é batizado, mas casa aqui, porque a Igreja permite", exemplificou o responsável, considerando que o número de casamentos "fora do normal", este ano, deve-se a uma conjugação de dois fatores. "São dois anos de pandemia [em que se adiaram cerimónias] e nota-se o impacto da classificação do Bom Jesus como Património da UNESCO", justificou João Alves.
Arroz e plástico proibidos
Reitor da basílica há três anos, a organização das cerimónias foi algo que quis "aperfeiçoar". Além de horários marcados, com cerca de uma hora e meia de diferença entre as celebrações, "há certas regras para evitar contratempos" e para respeitar as orientações da UNESCO. Fala, por exemplo, da proibição de arroz, materiais com plásticos ou foguetes na saída dos noivos da igreja. Também não há troca de flores entre festas para poupar tempo. "Precisamos de aperfeiçoar alguma coisa por sermos Património da Humanidade", esclareceu João Alves, revelando que há semanas imparáveis, como a que se aproxima, em que é preciso disciplina. "Temos 17 casamentos, são três por dia. É preciso, pelo menos, cumprir os horários", atestou o cónego.
Em termos globais, na diocese de Braga são esperados, até ao final do ano, quase 5000 casamentos nas 556 paróquias. Na basílica do Bom Jesus, a essas celebrações somam-se centenas de batizados, sendo certo, também, um recorde com "perto de 200" até ao final do ano. "A média costumava ser 90", lembrou João Alves, apontando para um fenómeno novo, em que os casais juntam o matrimónio e o batizado dos filhos na mesma festa. "São cerca de 20%", revela o reitor.
Protocolo com o Município para cumprir requisitos da UNESCO
A Confraria do Bom Jesus assinou, recentemente, um protocolo com o Município de Braga que prevê um apoio de 25 mil euros anuais, por parte da Autarquia, para ajudar na manutenção do espaço. As duas entidades comprometem-se, ainda, a avançar com diferentes ações para cumprir os requisitos da UNESCO, que há três anos classificou a estância como Património Mundial da Humanidade. "Destacaria como mais importante a congregação de esforços para a defesa deste bem, nomeadamente as questões relacionadas com a pressão urbanística, uma maior monitorização do que acontece à volta e a preparação de um plano de ação para prevenção dos fogos. Estamos numa altura em que é evidente essa necessidade", refere o vice-presidente da Confraria, Varico Pereira. Em termos de infraestruturas, o responsável adianta que falta criar um centro de interpretação para os visitantes e requalificar a zona do pórtico e do elevador.