O "rio de vinho" que inundou em 2023 as ruas de um lugar de Anadia, na sequência do rebentamento de dois reservatórios da Destilaria Levira, pode ter sido provocado por uma bomba, num ato de sabotagem cometida por desconhecidos.
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Segundo apurou o JN, a utilização de um engenho explosivo de fabrico caseiro é defendida pela empresa construtora dos reservatórios, que apresenta um relatório técnico de um dos principais especialistas mundiais de energética e detónica, na resposta ao processo interposto no tribunal pela Destilaria, que solicita uma indemnização de 1,5 milhões de euros à empresa, sediada na mesma região, por alegada má construção dos reservatórios.
Pelo insólito da situação, a enxurrada vermelha em Levira foi notícia em várias partes do Mundo. Na manhã de domingo 10 de setembro de 2023, pelas 10.15 horas, e quando a destilaria não se encontrava a laborar, um dos depósitos com 4,5 metros de altura e capacidade para 1276 m3 rebentou e na sequência provocou o colapso de outro igual que estava ao lado. Mais de dois milhões de litros de vinho (2 081 137), avaliados acima de 1,3 milhões de euros (1 385 967), percorreram as ruas, causando prejuízos não só na empresa, mas também em casas e equipamentos, como se de uma cheia normal se tratasse. O tinto foi comprado pela empresa a vários produtores do país para transformar em álcool para fins industriais, ao abrigo do Programa de Destilação de Crise, pago pelo Governo para combater o excedente de vinho no mercado.
Parte do vinho acabou por ficar em bacias de retenção e outra parte ficou junto do rio Levira, num tanque/ reservatório, tendo a empresa conseguido recuperar parte da bebida alcoólica, a qual não foi paga pelos organismos do Estado, o que levou a Destilaria Levira a interpor outra ação em tribunal, onde reclama 1,3 milhões de euros.
Soluções inadequadas
Para apurar as causas que levaram ao colapso dos reservatórios, a destilaria pediu um parecer ao Centro Pericial de Acidentes (Cenperca) do Instituto de Ciência e Inovação em Engenharia Mecânica e Engenharia Industrial (INEGI) da Universidade do Porto. Segundo refere a empresa na ação em tribunal, o Cenperca concluiu que o colapso dos reservatórios deveu-se ao mau dimensionamento estrutural dos reservatórios e à escolha de soluções de engenharia inadequadas, apontando deficiências, por exemplo, nos parafusos e nos furos. Assegura igualmente que o primeiro reservatório a colapsar terá sido o 1 (carregado com mais vinho), imediatamente seguido do reservatório 2.
A empresa que fabricou os depósitos não aceita a justificação da destilaria e responde com um relatório técnico elaborado pelo LEDAP – Laboratório de Energética e Detónica, subscrito por José Leandro de Andrade Campos, apresentado como a sumidade maior da área, não apenas em Portugal, mas mundialmente. Defende que foi uma explosão causada por um dispositivo, provavelmente de fabrico caseiro, que provocou o rebentamento do depósito localizado a nascente e que, ao colapsar, causou o rompimento do segundo depósito situado imediatamente a seguir, a poente, refere na resposta à ação judicial.