Liga não cobre a diferença do salário que recebia antes do acidente. Aufere menos 83 euros. Protegeu com corpo a família rodeada de fogo.
Corpo do artigo
O bombeiro voluntário de Castanheira de Pera Rui Rosinha, a quem foi atribuído um grau de incapacidade de 85% na sequência dos ferimentos causados num acidente e no incêndio de Pedrógão Grande, a 17 de junho de 2017, revelou ao JN que se aposentou e que está a receber, desde janeiro, 395,97 euros mensais de reforma por invalidez.
A este valor acrescem 282,28 euros, 14 vezes por ano, que serão pagos, a partir deste mês, pela Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP), através do Fundo Social de Proteção dos Bombeiros (FSPB). No total, Rui Rosinha vai receber 678,25 euros/mês, menos 83,83 euros do que ganhava como fiscal da autarquia.
"É bom haver essa compensação, mas o ideal seria não perder o rendimento que tinha à data do acidente, que era de 762,08 euros", observa Rui Rosinha, de 42 anos. "Se forem justos, não se podem esquecer que os bombeiros voluntários estão ao serviço do país e que tivemos o acidente quando estávamos em trabalho", acrescenta.
O presidente da LBP, Jaime Marta Soares, garante que "o montante é superior ao que está estipulado no regulamento, que tem como valor de referência o salário mínimo nacional". A diferença de 83,83 euros é justificada com o cálculo ter sido baseado no valor líquido. "Nunca deixaremos que o Rosinha, ou outros Rosinhas, fiquem numa situação difícil".
Vários tratamentos semanais
Quase três anos depois, o bombeiro de Castanheira de Pera continua a fazer sessões de fisioterapia, três vezes por semana, e a deslocar-se a Coimbra mais de uma vez por semana, onde é acompanhado por médicos de diferentes especialidades. Está a ser ponderada a possibilidade de fazer mais duas cirurgias, à vesícula e ao estômago.
Depois de ter combatido um incêndio em Figueiró dos Vinhos, no dia 17 de junho de 2017, Rui Rosinha e mais quatro elementos da corporação deslocavam-se para Castanheira de Pera quando sofreram um acidente. Um carro bateu-lhes de frente com tal violência, que a viatura onde seguiam se incendiou. Face à iminência de uma explosão, fugiram do local e, a poucos metros de distância, encontraram quatro adultos e uma criança, no meio das chamas. Os cinco bombeiros formaram, um círculo à volta da família, para a protegerem, e sofreram queimaduras graves. Um deles, Gonçalo Conceição, perdeu a vida.
Mulher cuidadora voltou ao trabalho após dois anos
Marina Rodrigues, 41 anos, mulher de Rui Rosinha, esteve cerca de dois anos sem trabalhar, para poder assumir a função de cuidadora. Auxiliar de ação educativa num jardim de infância, teve de regressar ao trabalho para não perder o vínculo laboral. Com problemas de locomoção e de mobilidade, Rui Rosinha esteve internado seis meses em Coimbra e foi submetido a mais de 14 operações. O casal tem dois filhos menores.