Projeto dos Bombeiros do Concelho de Espinho já permitiu identificar dezenas de situações que foram encaminhadas para entidades de apoio. "Desta forma, estamos também a salvar vidas", diz a mentora.
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Nem só de respostas a episódios de emergência se faz o dia a dia dos Bombeiros do Concelho de Espinho. Confrontados cada vez mais com situações de pessoas sem retaguarda familiar ou social adequada, decidiram implementar um novo procedimento que identifica e encaminha de forma célere esses casos para as instituições de apoio. E o projeto já permitiu sinalizar mais de 70 situações, que de outra forma continuariam na sombra e sem a devida atenção.
No socorro diário, os bombeiros são confrontados com pessoas que, depois de assistidas no hospital, não têm o apoio necessário. Há doentes, entre os quais idosos, que ficam sozinhos. E vítimas de violência doméstica que ficam desprotegidas após o regresso a casa.
Perante estas situações de risco psicossocial, os Bombeiros do Concelho de Espinho decidiram dar o seu contributo para tentar minimizar o sofrimento de quem a eles recorre em situações já extremas. "Por vezes transportamos pessoas ao hospital, algumas mais do que uma vez, mas não estamos a resolver a origem do problema. Muitas vezes, os pedidos de socorro têm causas sociais", explicou ao JN Tatiana Moreira, bombeira especialista de apoio psicossocial e mentora da iniciativa.
Origem do projeto social
Tatiana lembrou que a primeira situação de alerta para a necessidade de fazer algo mais do que o transporte e socorro imediato ocorreu em 2015. "Transportávamos frequentemente um senhor para o hospital, mais do que uma vez por dia, devido a problemas ligados ao consumo de álcool. Percebi que não fazia sentido acionar constantemente meios de socorro, porque o problema não estava a ser resolvido", contou.
"Numa ocorrência de violência doméstica ou de demência, também percebíamos que era necessário fazer algo mais do que levar a pessoa ao hospital e depois transportá-la para casa", acrescentou.
Desde então, Tatiana Moreira passou a sensibilizar os colegas bombeiros para que lhe reportassem estes casos e, de seguida, contactassem os parceiros sociais do concelho para prestar o apoio às pessoas. Nasceu então este projeto social, ao qual se juntou o bombeiro Francisco Rocha. Em 2021, a iniciativa ganha novo alento.
Formulários online
Nesse ano, foram implementados formulários online, preenchidos pelos bombeiros aquando das suas deslocações, utilizando o tablet atribuído a cada ambulância. Na prática, trata-se de uma ficha onde estão discriminados os dados de cada situação.
"É importante trabalhar com esta ficha. Facilita-nos bastante a sinalização das pessoas que precisam de apoio. Assim, conseguimos dar uma boa resposta", observou Francisco.</p>
"Ficamos com uma uniformização de procedimentos e não se falha na recolha dos dados necessários. São formulários curtos, com a informação essencial", reforçou Tatiana Moreira que, depois de receber estes elementos, os reencaminha para os apoios sociais existentes no concelho ou até entidades nacionais, caso isso seja preciso. Desta forma, as instituições que prestam auxílio ficam com uma parte importante do trabalho adiantado, conseguindo, se possível, prestar um apoio mais célere.
"Os bombeiros são conhecidos por salvar vidas. Acredito que, desta forma, estamos também a salvar vidas", resume Tatiana.</p>
"Sabemos que já fizemos a diferença em muitos casos, o que nos deixa naturalmente satisfeitos e com vontade de desenvolver ainda mais esta área de apoio psicossocial", sublinhou o comandante da corporação, Pedro Louro.