Os moradores da Quinta do Soutelo, no Seixal, viveram hoje, quinta-feira, uma tarde de "horror", rodeados pelas chamas que destruíram o eucaliptal que cerca as suas casas. Fogo posto é a causa mais evidente deste incêndio que deflagrou em simultâneo em dois locais.
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“Nunca tinha visto um filme de terror tão grande. Tivemos de apagar isto com as nossas mãos. Tivemos a ajuda de muitos vizinhos, mas os bombeiros quando vieram já isto estava apagado”, relata Antónia Jardim, de 56 anos, que reside há cinco anos na primeira vivenda atacada pelo fogo.
“Não deu tempo para nada. Isto tinha talvez um metro de lixo e ramagem dos eucaliptos. Foi um horror”, recordou ao JN, tentando esquecer a imagem do vento a empurrar labaredas contra a sua habitação. Quando se apercebeu do incêndio já estava a arder uma barraca feita em canas, onde um homem de nacionalidade estrangeira mantinha cerca de uma dezena de cães.
Não houve vítimas, mas uma das vivendas sofreu danos. A proprietária, Ausenda Almeida, de 65 anos, entrou num estado de aflição tal, que os filhos tiveram de a manter no interior da habitação, enquanto faziam os possíveis para proteger os seus bens.
“Moro aqui há 17 anos e nunca vi nada assim. Foi tão rápido. A mata foi toda e a minha casa estava rodeada. Foi em segundos. É ver uma vida inteira em risco”, disse ao JN, ainda bastante enervada. “Isto foi fogo posto, só pode ser. Começámos a ver fogo em Pinhal da Cunha e depois logo aqui”, recorda.
“Tirámos o que deu tempo, nomeadamente os carros, mas perdemos algumas coisas de jardim. A piscina rebentou e até retardou a zona de eucaliptos à volta”, conta o filho Miguel Castelhano, de 37 anos, adiantando que a rede que tinha em redor da casa “está toda queimada”.
“A minha preocupação foi isolar as divisões, fechar o gás e atacar a zona Norte que era onde o fogo estava a aparecer”, afirma, já depois de ter levado também para o interior as botijas de gás que tinha na rua.
“O fogo foi posto. Comecei a ver fumo de um lado e ouvi logo depois estalar do outro. Os dois deflagraram ao mesmo tempo e o que é estranho é os dois pontos surgirem exactamente no mesmo terreno”, alega.
A suspeita é confirmada pelos bombeiros. “Apareceram dois focos de incêndio ao mesmo tempo a uns 100 metros. Só pode ser fogo posto. E foi bem posto, a favor do vento”, avança António Silva, segundo comandante dos Bombeiros Voluntários de Amora, que esteve no comando das operações.
Um incêndio nesta zona não era algo inesperado pelos moradores da Quinta do Soutelo que chegaram a entregar vários abaixo-assinados e a apresentar reclamações à Direcção-Geral das Florestas, GNR, Protecção Civil e Câmara Municipal do Seixal, para que o proprietário do terreno onde alegadamente começou o incêndio cortasse os eucaliptos, devido ao perigo que representavam.
“As árvores estavam enormes e cobriam a casa. Há ano e meio batiam-me no muro”, relata Ausenda Almeida, criticando a falta de limpeza do terreno.
“Isto, agora, não é nada. Há dois anos tinha eucaliptos que batiam acima dos prédios”, confirma a vizinha de Ausenda, Antónia Jardim.