Militares da GNR e idosos fazem peça de teatro para alertar contra as burlas.
Corpo do artigo
"Ainda lhe dei com uma muleta mas, mesmo assim, fiquei sem o fio de ouro que trazia ao pescoço. A bem da verdade, quem perdeu foi o meu filho porque ia deixá-lo para ele, por herança". Este relato foi feito, ontem, por André Vasconcelos, um homem com 95 anos que pôs uma plateia de dezenas de contemporâneos a rir na Casa do Povo de Vila Boa do Bispo, Marco de Canaveses.
O idoso foi convidado pela Guarda Nacional Republicana (GNR) para dar o seu testemunho, na qualidade de vítima de burla, numa iniciativa lúdica/informativa a que foi dado o nome de Burlarte. Deste modo, se evocou o Dia Mundial do Teatro com representação, em palco, de casos de burla ficcionados pela Universidade Sénior do Marco "com base nas notícias do JN", explicou a reitora Carmina Bernardes e de relatos na "primeira pessoa" de idosos burlados com diálogos entabulados por militares da GNR.
"Existindo uma população isolada, ou a viver sozinhos, os nossos mais velhos são os alvos fáceis do crime de burla", contextualiza Rui Barros, alferes do Destacamento da GNR de Amarante. Este tipo de crime, explica o militar, é combatido, sobretudo, com ações de prevenção desenvolvidas no âmbito do programa "Idosos em segurança - Apoio +65" que no Baixo Tâmega está a ser desenvolvido, nomeadamente, pela secção de policiamento comunitário e prevenção criminal da GNR de Amarante.
Burlões bem informados
Na representação teatral acentuou-se a tónica na crença dos idosos, segundo a qual, com eles "não, nunca irão cair na esparrela dos burlões". "Puro engano. Os burlões quando atuam estão bem informados sobre a vida da vítima. Nos meios rurais é muito fácil conseguir essa informação porque toda a gente se conhece", fizeram notar os militares em cima do palco.
"Ele disse-me que era filho do Zé, sobrinho do Chico e eu confiei nele", confessou André. Neste caso, o burlão dizia que tinha estado em França e que regressava para abrir uma ourivesaria, mas precisava de tirar fotografias a artigos em ouro para reproduzi-los".
Maria José Lopes, de 83 anos, contracena de André no palco também foi vítima de tentativa de burla. "Já tentaram trocar o ouro, mas eu não fui na conversa. Sou muito desconfiada. Nem um GNR deixei entrar em casa. Sabia lá o que ele queria...", contou.
A iniciativa irá percorrer o Baixo Tâmega, "pelo menos é essa a vontade da GNR", diz o alferes Barros.