Cães, gatos, aves e peixes foram benzidos este domingo, numa celebração dedicada ao santo protetor dos animais, Santo Antão, na paróquia de S. Martinho de Friastelas, em Ponte de Lima.
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A capela do Senhor da Saúde, onde decorreu a benção protagonizada pelo pároco Paulo Emanuel, também foi palco de outras “cerimónias”: o “casamento” dos periquitos Katalina e Ricardo, com o testemunho de duas pomposas garnizés e o “batismo” de Chaka, um cadela Pastor Alemão, com nove meses e que “destrói tudo em casa” dos donos.
A cerimónia também serviu de cenário de gravação de um documentário sobre a história de Ulisses, um cão Buldogue francês, paralítico há três anos, que usa fralda e anda de “cadeira de rodas”. À espera de “um milagre” esteve ainda “Sasha”, que também perdeu a mobilidade há seis anos, e é o “bebé” de uma família do Porto. Uma região, aliás, de onde vieram várias mascotes e respetivos donos, que se juntaram às gentes locais, na cerimónia.
“Antigamente fazia-se a benção dos animais. Eu sou desse tempo. O senhor padre Paulo veio aqui para a terra e faz, e eu achei interessante. Trouxe as duas ‘garnizas’ e um casal de periquitos. A minha nora é que fez o arranjo [da gaiola]. Disse que vinham de noivos”, contou Maria de Lurdes Taveira, natural de Friastelas, recordando a época em que ia com a mãe benzer o gado. “Agora vem animais mais domésticos, mas antes fazia-se a vacas, ovelhas, cabras. Eu ia com a minha mãe. Acho que não deviam deixar acabar esta tradição”, referiu Lurdes.
A nora Katalina Almeida, do Brasil, explicou que a gaiola dos “noivos” benzidos pelo Padre Paulo, foi ornamentada com uma ‘arara’ (peluche), a fazer de conta que é o sacerdote, flores vermelhas e um pedaço do seu vestido de noiva. E que as duas aves “são as testemunhas”. “O passarinho picou o meu sogro, acho que ele não queria casar”, brincou a jovem.
À porta da capela, enquanto decorria a cerimónia, ficou Julieta Alves de Friastelas com a sua “irrequieta” Chaka.
“Venho ver se o padre faz uma ‘bençãozinha’ a ver se ela acalma, porque está-me a destruir tudo. (...) A gente gosta muito disto mas quando olha pela janela e vê tudo destruído [no jardim] dá uma raiva. Vou pedir ao Santo Antão a ver se a acalma”, contou, entre risos, segurando a mascote, que não parava quieta encostada às suas pernas e lhe deixou as calças repletas de pelo.
Do Porto, foram propositadamente à benção em Friastelas Eduarda Pinto, com o namorado António Castro e a irmã Andreia, levar a cadela Ofélia e o ‘irmão’ Ulisses, que é deficiente motor.
“Estamos a fazer um documentário sobre o problema do Ulisses. Ele teve três hérnias que o deixaram paraplégico e incontinente. E basicamente o documentário, é sobre como há a possibilidade de continuar e de ser muito feliz numa cadeira de rodas”, relatou a dona.
“O Ulisses é um sobrevivente. Foi mais difícil para nós do que para ele. Eles são muito resilientes”, acrescentou a dona. O ‘realizador’ do filme é António, que filmou toda a cerimónia, onde também estiveram Narciso Moura e a mãe Maria Amélia, de Ermesinde. “Viemos por uma questão religiosa e espiritual benzer a nossa cadela ‘Luana’. É uma questão de crença e proteção do meu animal”, disse o filho.
O pároco destacou o significado da benção dos animais, num momento difícil da aldeia. “É de vida que se trata e esta celebração calhou até numa altura em que estamos um bocado fragilizados porque tivemos três funerais numa semana. Numa freguesia tão pequena é muito e falar de vida nestas altura faz falta”, referiu, comentando a propósito do caso de um cão paralítico, cujas donas também da zona do Porto [pediram anonimato] confessaram gostar de o ver recuperar a mobilidade.
“A minha experiência diz que há milagres todos os dias. Esse cachorrinho mesmo estando frágil é um milagre de certeza na vida das pessoas, porque senão não o traziam aqui”, disse, concluindo que “as criaturas em si já são uma benção”.
O dia de Santo Antão celebra-se a 17 de janeiro.
