Quando José Costa chega à corte onde tem 230 cabras e 15 vacas maronesas já os cães que ali o esperam se fartaram de ladrar. Há dois cá fora, de guarda, e quatro lá dentro. A cauda não pára. Denuncia-lhes a satisfação de verem o dono e não só. Sabem que vão comer uma dose de ração, antes de abalarem, às 11 horas, com o rebanho de caprinos pela serra do Alvão fora, no distrito de Vila Real, de onde só regressarão à noitinha.
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Este pastor de 55 anos vive em Alvadia, no concelho de Ribeira de Pena. Já ouviu falar da medida de apoio aos cães de proteção de gado contra ataques de lobo. As ajudas podem variar entre 350 euros para um cão e até 1138 euros para quem tiver quatro.
Para usufruir da ajuda, o criador tem de ter um mínimo de cerca de 20 ovelhas ou cabras, ou então dez vacas, para um cão. Os mínimos podem ir até 200 ovelhas ou cabras, ou 100 vacas, para conseguir apoio para quatro cães.
Segundo o Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), as raças portuguesas reconhecidas como aptas para a função de proteção de gado são o cão de Castro Laboreiro, o cão de Gado Transmontano, o cão da serra da Estrela e o rafeiro do Alentejo. Existem raças estrangeiras reconhecidas pelo Clube Português de Canicultura, que são adequadas a esta função, bem como animais que, embora não tenham raça definida, apresentam porte e comportamento ajustados.
Apesar de ter seis cães, José, conhecido como o Zeca de Alvadia, só pode candidatar quatro e os escolhidos são três Castro Laboreiro e um cão de gado transmontano, duas das raças abrangidas. Na sua opinião, qualquer apoio para os cães é "bem-vindo", pois "eles comem muita ração".
Fatura pesada
Ora, contabilizando que cada saco de 20 quilos lhe sai a "14 euros e tal" e que só dá para "dois ou três dias", ao fim do ano a fatura da alimentação é pesada. Por isso, se conseguir o apoio, "pode não chegar para pagar tudo, mas já será uma ajuda importante".
"Quantos mais cães houver, eles [ICNF] menos indemnizações pagam", depreende, já que assim poderão registar-se menos ataques aos rebanhos. O pastor salienta ainda que "quem tem gado devia ser obrigado a ter cães, de preferência específicos para a zona e que sejam fortes", sublinha, sempre com a proteção do gado como objetivo principal.
Apesar de andar quase sempre na serra do Alvão, Zeca de Alvadia confessa já não vê lobos "há bastante tempo". Mesmo assim, não dispensa ter vários cães de gado para os escorraçar no caso de aparecerem. É que "afugentar ainda conseguem, mas não têm capacidade para lutar com eles". E se for só um, daí a pouco já vem com o rabo entre as pernas". É que, frisa, "há lobos muito fortes".
Entre 6 meses e 15 anos
Os cães candidatados ao apoio têm de ter idades entre os 6 meses e os 15 anos, ter a tipologia adequada à função de proteção de gado contra ataques de lobo e estar, efetivamente, no exercício desse trabalho.
Cinco anos consecutivos
O apoio previsto a esta medida respeita a um período de cinco anos consecutivos. As candidaturas aos apoios devem ser feitas no portal na Internet do Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas.
Segundo o ICNF, a medida de apoio à manutenção de cão de proteção de gado face a ataques de lobo está integrada no Plano Estratégico da Política Agrícola Comum para o período entre 2023 e 2027. O chamado PEPAC inclui uma intervenção agroambiental com vista à proteção e recuperação de espécies da fauna com estatuto de ameaça associadas a sistemas agrícolas. Uma das três operações visa contribuir para a conservação do lobo-ibérico. Tal deverá conseguir-se minimizando o conflito decorrente dos prejuízos causados por esta espécie sobre os efetivos pecuários e apoiando os produtores pecuários a melhor protegerem os seus animais contra ataques de lobo, através do apoio à manutenção de cães de proteção de gado.