Caixas térmicas feitas na Maia poderão transportar milhares de vacinas da Pfizer pelo país
Recipientes desenvolvidos pela APP Thermal podem acomodar até cinco mil doses e mantêm a temperatura abaixo dos 80 graus durante mais de 72 horas.
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Caixas térmicas, desenvolvidas na Maia, poderão levar milhares de vacinas contra a covid-19 por semana no país e até à Argentina, mas APP Thermal ainda aguarda acordo com a Pfizer. A APP Thermal está preparada para fazer o mesmo em Portugal, garantindo o armazenamento e o transporte a baixas temperaturas para mais de três dias. A caixa com maior capacidade pode guardar cinco mil doses, embora as quantidades transportadas dependam dos pedidos dos pontos de vacinação, como centros de saúde e hospitais.
A empresa portuguesa, sediada na zona industrial da Maia, desenvolveu caixas que conseguem manter as temperaturas muito baixas, condição necessária à preservação da vacina da BioNtech-Pfizer. A farmacêutica terá, até ao final deste ano, capacidade para entregar 50 milhões de vacinas. Os hospitais britânicos começaram a receber as primeiras doses no fim de semana e já estão a administrá-las.
Isolamento para mais de 72 horas
Há mais de cinco meses que a APP Thermal está a produzir caixas com condições térmicas especiais para o armazenamento da vacina. "Sabíamos que teria de ser transportada de uma forma completamente diferente das outras, a menos de 80 graus. Desenvolvemos materiais que permitem esse isolamento para aguentarem até 120 horas", avança Manuel Pizarro, CEO daquela empresa ao JN.
Os produtos foram testados numa câmara que simula condições ambientais e temperaturas, com recurso a um programa de inteligência artificial. "Este simulador é importante, porque temos de defender as vacinas, ao máximo, do calor", explica. As caixas com as vacinas serão acomodadas num recipiente, preenchido com gelo seco. Um aparelho com sensores monitorizará a temperatura da no interior desse recipiente e transmitirá a informação, em tempo real, por GPS para um centro de controlo. As caixas, desenvolvidas na Maia, têm quatro tamanhos diferentes e podem levar entre mil e cinco mil doses de vacinas.
"Um centro de saúde que só vacine duas mil pessoas não precisa de um lote tão grande e, nesse caso, temos de ajustar. É importante esta micrologística, para que não haja desperdício", explica o administrador.
Percurso rastreado
A APP Thermal criou uma plataforma que poderá possibilitar o rastreio do envio das vacinas da Pfizer na Argentina, onde tem uma parceira, a Advanced Products Argentina. "Este portal tem geolocalização e, se algo correr mal, conseguimos corrigir", indica.
Em Portugal, a empresa acredita poder ser "uma solução" para acolher as grandes quantidades de vacinas que aí vêm, dada a pouca disponibilidade de equipamentos de ultracongelação no país.
"Nesta primeira fase, a Pfizer quer ter visibilidade total. Mandar tudo diretamente da fábrica até aos países. Como estamos a falar de milhares de doses a chegarem aos centros de saúde, o processo logístico torna-se muito mais fácil com a nossa produção interna. Pensamos poder ser uma alternativa".
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Empresa maiata preparada para exportar
A APP Thermal está preparada para exportar as caixas de armazenamento e de transporte da vacina contra a covid-19 para Angola, Moçambique, Cabo Verde e outros países de língua portuguesa, além da Europa e dos países nórdicos. A empresa maiata tem a ambição de ajudar no transporte para a Madeira e os Açores. "As nossas caixas já são usadas no Mundo todo", frisa Manuel Pizarro. No caso específico da vacina contra a covid-19, "teríamos de quintuplicar o volume de caixas e criar as infraestruturas necessárias. Até seria gratificante".
Evitar roubos ou extravios
Para evitar roubos ou extravios, as caixas possuem um selo e sensores de luz. É possível perceber se foram abertas e onde estavam quando foram violadas. "Ter equipamentos a monitorizar todos os parâmetros encarece a solução, por tratar-se de um envio massivo de caixas". Sendo uma vacina nova, a Pfizer não arrisca e "quer saber tudo o que entregou" e se o transporte cumpriu os "requisitos".
Plano de vacinação
Primeira fase: Grupo prioritário abrange 900 mil
Entre janeiro e fevereiro de 2021 serão vacinadas 950 mil pessoas. Os residentes e funcionários de lares e unidades de cuidados continuados, os profissionais de saúde, de segurança e de serviços considerados essenciais. E ainda as pessoas com mais de 50 anos com insuficiência cardíaca, insuficiência renal, doença coronária, DPOC, e insuficiência respiratória crónica (com suporte ventilatório).
Segunda fase : Todos os idosos e doentes de risco
No segundo trimestre, o grupo alvo abrange 2,7 milhões de pessoas, dos quais 1,8 milhões com mais de 65 anos e sem patologias e 900 mil entre os 50 e os 64 anos com determinadas doenças (como cancro ativo, diabetes, hipertensão, obesidade, insuficiência hepática e doença renal crónica).
Terceira fase : Toda a população até dezembro
Deverá prolongar-se até ao final do ano e abranger toda a população com duas doses. Se houver atrasos na distribuição das vacinas, poderão ser definidos mais grupos prioritários.