<p>O Ministério Público de Torres Vedras diz que são pornográficas as imagens no ecrã da réplica do computador Magalhães, colocado no monumento ao Carnaval e ordenou a sua retirada. A Câmara queixa-se de censura. </p>
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"É lamentável constatar que há órgãos judiciais que não têm capacidade para discernir o que é uma brincadeira de Carnaval de um caso sério do dia-a-dia", considerou o socialista Carlos Miguel, presidente da Câmara de Torres Vedras, classificando a acção do Ministério Público (MP) como "o primeiro acto de censura após o 25 de Abril de 1974". Por isso, assegurou, a autarquia vai, agora, "discutir, com todos os meios ao seu alcance, a nível judicial" a decisão.
Eram 12.26 horas quando deu entrada no fax da Câmara a notificação do MP exigindo que fosse retirado, do monumento ao Carnaval, o conteúdo do ecrã do computador Magalhães. "De início, ainda pensámos que se trataria de uma brincadeira de Carnaval", confessou o autarca ao JN.
Mas não era. Na sua missiva, o MP dava um prazo - até às 15.30 horas - para que fossem retiradas as imagens, esclarecendo que, se tal não acontecesse, seria ordenada a apreensão dos conteúdos, que classificava como pornográficos.
Há 12 dias que o monumento ao Carnaval está colocado em frente ao Hotel Império - um dos pontos centrais da cidade. O computador, uma réplica construída em fibra de vidro, aparece junto a um estudante. O ecrã ostenta uma montagem, de vários sites, nos quais aparecem diversas imagens femininas. Muitas delas aparecem desnudadas.
"Nada disto é pornográfico. Quando muito, erótico", considera Carlos Miguel que, mesmo sem concordar com a decisão, arrancou, antes das 15.30 horas, o autocolante polémico que ilustrava o ecrã, substituindo-o por um outro onde se lia a palavra 'censura'.
Ao acto assistiram algumas dezenas de moradores, que se manifestaram perplexos com a decisão.
Após cumprir a ordem, o autarca deslocou-se ao Ministério Público onde manteve uma reunião com procuradora-adjunta Cristina Anjos. No final, disse ter oferecido "livres trânsitos à procuradora que fez o despacho e à juíza do processo convidando-as para irem ao Carnaval". "Além disso, pedi-lhes que devolvessem as imagens para o espólio do futuro museu do Carnaval de Torres Vedras", acrescentou.
O edil lembrou ainda que um dos personagens do Carnaval deste ano é "bastante controverso". "Temos um Cristiano Ronaldo que, pela posição das pernas, deixa perceber um pouco de um dos testículos. Espero que também esse não seja censurado pois seria mais difícil substitui-lo", ironiza.
O JN contactou o MP de Torres Vedras, mas a procuradora, Ana Paula Silva, manifestou-se indisponível para tecer comentários.