Câmara contra eólicas em Sistelo: "Prefiro ter uma aldeia com gente do que com torres eólicas"
A paisagem e a pujança económica da aldeia de Sistelo, com o crescimento do turismo nos últimos anos, são dois dos argumentos da câmara de Arcos de Valdevez, para contestar a instalação de um novo parque eólico naquela região.
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A autarquia, liderada por Olegário Gonçalves, aprovou um parecer técnico que “alerta para os elevados impactos ambientais e patrimoniais do projeto de parque eólico promovido pela Madoqua IPP nos concelhos de Arcos de Valdevez e Monção”. E que considera que este, “tal como está proposto, representa um risco sério para a biodiversidade, a paisagem e o turismo local”, pelo que recomenda “a sua reformulação total ou o indeferimento pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA)”.
“A aldeia de Sistelo é 7.ª Maravilha de Portugal, é Património Cultural, é Rede Natura, está às portas do Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG) e devido às localizações das eólicas, que ficam também muito próximas da nascente do Vez (rio), obviamente, para já, o nosso parecer é negativo”, afirmou, nesta segunda-feira ao Jornal de Notícias, o autarca Olegário Gonçalves (PSD), referindo: “Neste momento somos contra e agora vamos ver se a empresa se pronuncia e depois vamos analisar, se [o projeto] não cumprir os requisitos que foram enunciados, vamos ser sempre contra”.
Para o presidente de câmara de Arcos de Valdevez, a preservação da aldeia de Sistelo, é um dos principais requisitos.
“É uma aldeia que costumo dizer que tinha uma mercearia e quatro pessoas de idade que iam jogar à sueca. Quando faltava um, não havia quem jogasse às cartas. E agora, com a classificação e sendo 7.ª Maravilha de Portugal, passou a ter três restaurantes, uma mercearia, vai abrir um fumeiro com a marca Sistelo, e ultimamente abriu mais um restaurante junto à Portela de Alvite, entre outros comércios e empreendimentos turísticos”, argumenta , acrescentando que também “houve um reforço de pessoas a habitar Sistelo, daí a recuperação do casco histórico estar praticamente completo com o turismo”. “Prefiro ter uma aldeia com gente do que com torres eólicas”, resumiu.
Atualmente, está em cima da mesma o projeto de um novo parque eólico previsto para a região de Arcos de Valdevez e Monção, que terá como epicentro a freguesia serrana de Sistelo, e entra na área do Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG). E que tem gerado contestação em várias frentes, entre elas, uma petição pública, que ao dia de hoje (segunda-feira, 26 de maio) reúne mais de 4200 assinaturas.
A FAPAS - Associação Portuguesa para a Conservação da Biodiversidade, também já tornou público, através de um comunicado, que se irá opor ao empreendimento. Em causa, está um projeto eólico proposto pela empresa Madoqua IPP, com 32 torres eólicas, com 112 metros de altura e aerogeradores, com um diâmetro de rotor aproximado de 175 metros. E ainda a construção de uma subestação, numa área com cerca de 7828 hectares, e instalação de uma linha elétrica de muito alta tensão numa extensão total de cerca de 76289 hectares.
A linha atravessará corredores de passagem nos concelhos de Arcos de Valdevez, Monção, Melgaço, Ponte da Barca, Vila Verde, Terras do Bouro, Amares, Póvoa de Lanhoso, Vieira do Minho, Montalegre, Braga, Guimarães e Vila Nova de Famalicão. E conectará à Rede Elétrica de Serviço Público (RESP), através de uma subestação cuja localização, ainda não definida, incidirá numa de quatro opções: Pedralva, Frades, Alto Lindoso ou Riba d’Ave.
O período de consulta pública da “Proposta de Definição de Âmbito do EIA (Estudo de Impacte Ambiental)” do projeto decorreu até 16 de maio e encontra-se já na fase inicial a elaboração do Estudo Prévio, que “deverá estar concluído aquando da submissão do EIA”. Depois de licenciada a obra será executada no prazo de um ano.