Pode estar para breve o final de um processo que se arrasta há anos entre a autarquia e o Governo. Negociações avançaram nas últimas semanas. Ideia vencedora do concurso organizado pela autarquia prevê habitação, parque urbano, restauração, comércio, hotel, marina e um edifício para associações
Corpo do artigo
A antiga lota de Aveiro, uma área com cerca de 11 hectares junto à ria e a poucas centenas de metros do centro da cidade, que pertence à Administração do Porto de Aveiro (APA), pode brevemente passar para as mãos da Câmara. No final de fevereiro, e depois de contactos prévios entre o presidente do município, Ribau Esteves, o novo administrador da APA, Eduardo Feio, e a ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, a Câmara enviou para as duas entidades e, também, para o ministro das Infraestruturas, João Galamba, uma proposta para ficar com o terreno. O plano, confirmou Ribau Esteves esta quarta-feira ao JN, contempla a possibilidade da transferência ser feita no âmbito da descentralização, algo que a APA e o Governo têm alegado não ser possível, ou através da venda, tendo a autarquia feito uma proposta. Ribau Esteves não revelou o montante, mas adiantou que as conversações estão a decorrer bem e que "nunca esteve tão perto a possibilidade de um acordo", acreditando o edil que possa estar fechado "até ao próximo verão".
As declarações de Ribau Esteves foram feitas hoje no final da apresentação da proposta vencedora do concurso de ideias para a antiga lota organizado pela Câmara. Apesar de ainda não ter os terrenos, o município quis desta forma "reforçar a demonstração do interesse", explicou Ribau, mostrando de que forma aquela área, atualmente quase toda ao abandono, poderá servir as pessoas e a cidade.
Ribau Esteves esclareceu que a proposta vencedora, dos arquitetos Nuno Costa e Cátia Alexandre, não tem que vir a ser aplicada pela Câmara, "não há nenhum acordo nesse sentido porque foi apenas um concurso de ideias", mas atendendo "à qualidade e boas ideias" do projeto, este poderá servir de base ao "desenho" da futura zona ribeirinha, sem prejuízo de aproveitar soluções apresentadas por outros candidatos ao concurso.
Os arquitetos da ideia vencedora, que receberam um prémio de 50 mil euros, explicaram de uma forma sucinta o "Parque Urbano da Marinhas", assim o designaram. Explicaram que recorreram à história da antiga lota para criar uma ideia inclusiva, "que seja acessível a todos", com estética, "de forma a proporcionar emoções", sustentável, "do ponto de vista financeiro, ambiental e social" e "sem espaços mortos", resumiu Nuno Costa.
A ideia vencedora contempla 15400 m2 para habitação familiar, em cinco blocos. Prevê também um parque urbano com 22575 m2, "um espaço polivalente que seja local de encontro", com vários equipamentos, como um campo de areia para futebol e andebol de praia. O edifício da antiga lota, com 2250 m2, destina-se à venda de produtos locais, bares e restaurantes com uma esplanada sobre a ria. Se a ideia vencedora se concretizar haverá um hotel em forma circular, com 8225 m2, e uma marina, com 13400 m2, e capacidade para barcos até 40 metros.
As associações náuticas e culturais, algumas delas ainda estão sediadas na antiga lota, ficarão num novo edifício, com 6000 m2, inspirado nos armazéns de sal. O edifício mais "recatado" será o "Living Places Lab", destinado à investigação e start-ups (pequenas empresas com ideias inovadoras).
Academia criativa num antigo colégio
A Câmara promoveu igualmente um concurso de ideias para reconverter o antigo colégio de inserção Dr. Alberto Souto numa academia criativa, " Creative Change Academy. Neste caso, e ao contrário da antiga lota, a Câmara já é detentora dos terrenos, localizados em Aradas, com cerca de 15 mil m2.
A proposta vencedora, que arrecadou 20 mil euros, pertence aos arquitetos Gonçalo Louro e Cláudia Santos. Prevê a reabilitação dos edifícios existentes e a construção de novos. Serão criadas condições para acolher a criação artística, através de um conjunto de espaços de residência, de acolhimento, com estúdios e espaços para conferências, produção e apresentação, bem como um local para acolher as memórias do espólio Municipal. Haverá espaços comuns e está pensado para que possa ser feito em várias fases.
Ribau Esteves adiantou que a academia criativa deverá ser feita em três fases num período de "cinco a seis anos, se tudo correr bem e houver disponibilidade financeira". O autarca acredita que o investimento total rondará os 20 milhões de euros, contando com fundos europeus.