Câmara do Porto quer comprar sede da ANJE para evitar saída de empreendedores para a periferia
Face às críticas do BE e da CDU, o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, justificou, na reunião do Executivo desta segunda-feira, que a compra da sede da ANJE servirá para manter na cidade "atividades ligadas ao empreendedorismo" que "não conseguem pagar os arrendamentos comerciais".
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A proposta de aquisição, por 4,3 milhões de euros, da sede da Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE), também conhecida como Casa do Farol, na Rua de Paulo da Gama, foi aprovada por maioria pelo Executivo municipal, colhendo apenas o voto contra do vereador do BE, Sérgio Aires, e a abstenção da vereadora comunista Ilda Figueiredo, tendo ambos questionado a intenção da Câmara. Designadamente, quanto à "necessidade de o negócio acontecer agora", uma vez que a associação ainda permanecerá no imóvel por mais dois anos, mediante o pagamento de uma renda de perto de 25 mil euros mensais.
"Perplexo com algumas questões", Sérgio Aires disse tratar-se de um passo "precipitado" comprar o edifício "nesta fase do mandato" e sublinhou que "a ANJE encaixa três milhões de euros com esta situação". "Se a ANJE vai lá ficar mais dois anos, porque é que não vende o edifício à Câmara nessa altura?", questionou o bloquista, afirmando que este é um "grande negócio" para a associação. "Além de todos os benefícios públicos que já obteve, vende agora o edifício, encaixa 4,3 milhões de euros, continua no edifício e paga 600 mil euros, que são os 25 mil euros por mês. Ou seja, no fim, a venda do edifício rende-lhes 3,7 milhões de euros, além de tudo de que já beneficiaram, que não questiono. Isto parece ser um apoio encapotado à ANJE", considerou o vereador do BE.
Rui Moreira contrapôs, garantindo não haver "nenhum favorecimento" à ANJE, e argumentou que a aquisição, que tem como objetivo a instalação de um centro multifuncional de apoio ao empreendedorismo, contribui para manter na cidade "atividades ligadas ao empreendedorismo". "Há uma rede fundamental de empreendedorismo social e de talentos que, hoje em dia, não encontram instalações na cidade do Porto para legitimamente poderem exercer uma atividade que para nós é fundamental", afirmou o autarca, vincando que "o município tem que criar condições para garantir quer determinado tipo de atividades que não conseguem pagar os arrendamentos comerciais podem continuar a funcionar na cidade do Porto".
"Reforçar o investimento público em edificado é, a nosso ver, positivo. Aquele edifício tem uma excelente localização", justificou o presidente da Câmara, que espera que "o próximo executivo possa ter ali um polo importante para aquilo que hoje já não consegue pagar rendas". "O que vai acontecer é que este tipo de atividades ligadas ao empreendedorismo vai para a periferia, e eu gostava que, apesar de tudo, pudessem ficar na cidade do Porto. Esta é a questão política", explicou o autarca independente, para quem as críticas formuladas pela CDU e BE "são divergências políticas".
Quanto ao período de tempo que decorrerá entre a aquisição e a saída da ANJE do imóvel, Moreira explicou que a associação "precisará de dois anos para sair", sendo que o Município também necessitará desse prazo para "fazer projetos de execução e levar a cabo todo o planeamento desta obra [de reabilitação do edifício], que em menos de dois anos dificilmente se faz".
"Tenho as maiores dúvidas que esta seja uma prioridade da cidade. Daqui por dois anos podia ser discutido", criticou a vereadora Ilda Figueiredo, que questionou: "Porquê hoje?". Da parte do PS, o vereador Tiago Barbosa Ribeiro afirmou não ter qualquer "problema de fundo" com a compra do imóvel pela Câmara, cuja proposta de aquisição mereceu o voto favorável dos socialistas.
O PSD também acompanha a decisão da maioria, e o social-democrata Filipe Sampaio Rodrigues, que nesta reunião já substituiu o vereador Alberto Machado, que renunciou ao cargo por motivos de saúde, lembrou que "caberá ao próximo executivo assegurar que o movimento associativo nacional não deixe a cidade".