<p>O lixo espalhado pela única rua do Bairro do Paul, em Avis, e a proliferação de barracas ilegais constituem o cenário onde morreram, terça, três crianças na sequência de um incêndio. Ontem foram a enterrar em ambiente de grande pesar.</p>
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Ocupado na sua totalidade por elementos de uma comunidade cigana, o Bairro do Paul vive entre contrastes, como, por exemplo, aqueles moradores que têm água e luz nas suas casas pré-fabricadas e os que não têm absolutamente nada.
A autarquia local, construiu há vários anos, onze casas pré-fabricadas naquele espaço, mas as barracas, a pouco e pouco, foram aparecendo, sendo o bairro actualmente habitado por cerca de meia centena de pessoas.
Situado num espaço contíguo à zona industrial de Avis e a cerca de um quilómetro do centro urbano daquela vila alentejana, várias crianças e adultos vivem diariamente entre a "miséria" e os campos verdejantes que circundam uma das partes do bairro.
Este é o cenário onde deflagrou um incêndio, terça-feira à noite, numa barraca ilegal e que provocou a morte de três irmãos - dois rapazes, um com 3 meses e outro com três anos, e uma rapariga, com seis anos, que ficaram carbonizados.
Uma menina de quatro, também irmã das vítimas mortais, conseguiu salvar-se com a ajuda de familiares e amigos, mas sofreu queimaduras graves nas mãos, braços e rosto, encontrando-se internada no hospital pediátrico D. Estefânia, em Lisboa, depois de ter sido transferida da unidade de Portalegre.
"Se tivesse uma casa nada disto tinha acontecido", lamentou ontem à agência Lusa Nuno Mendonça, pai das vítimas. Aos 26 anos, o progenitor, que não testemunhou o incêndio na sua barraca porque se encontrava na vila de Avis a "comprar tabaco", acusa a autarquia local de não prestar nenhum tipo de ajuda à sua família.
"Eu ando atrás da Câmara de Avis há muito tempo, mas não fazem nada, não me constroem uma casa. A Câmara sabe que eu roubei chapas para fazer uma barraca, mas nada fizeram para me ajudar", relatou.
Sem nenhum tipo de apoio social ao longo dos últimos anos, Nuno Mendonça que, ontem , falou à Lusa minutos depois dos funerais dos seus filhos, revelou que, após aquela tragédia, desistiu da ideia de um dia vir a ter uma casa.
"Isto é só miséria, nem uma casa de banho temos", disse por sua vez à Lusa Francisco Calado, que vive também numa barraca com a mulher e cinco filhos menores.
"Como é que os gaiatos vão à escola se não têm aqui condições, se não podemos lavar os meninos", questionou.