Câmara não fiscaliza obra polémica de hotel no antigo campismo da Estela
A Câmara da Póvoa de Varzim não vai fiscalizar as obras de construção de um hotel de luxo em zona de Reserva Agrícola Nacional (REN), no antigo Parque de Campismo do Rio Alto, na Estela.
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Depois da situação ter sido noticiada pelo JN, a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) foi ao local, mas a autarquia diz que está à espera do relatório para, “se se justificar, ir lá”. A unidade hoteleira, do grupo Tivoli Hotels, abre a 19 de maio.
“O município está à espera que nos entreguem o relatório e, se houver alguma razão para fiscalização, nessa altura iremos lá”, afirmou o presidente da Câmara, Aires Pereira, na reunião do Executivo municipal, em resposta ao PS. “Se a Câmara decidiu sozinha sobre as obras de conservação, então deve ser a Câmara a enviar a fiscalização para ter a certeza que a regularidade urbanística está a ser cumprida. Parece-me absurdo que a Câmara não aja”, frisou o socialista João Trocado.
O caso foi noticiado pelo JN a 22 de Janeiro: um hotel de luxo estava a nascer em cima da praia, no antigo parque de campismo do Rio Alto. A Câmara disse, na altura, que apenas deu “luz verde” a um “Pedido de Informação Prévia (PIP) para a realização de obras de requalificação, que não carecem de licenciamento”, mas a verdade é que, conforme o JN constatou no terreno, foi demolido o edifício principal, construído um novo bloco, substituídos os "bungalows" existentes e colocados mais, eliminada a área destinada a tendas e caravanas. Tudo em zona dunar, classificada como Reserva Ecológica Nacional (REN), numa das áreas do país com maior risco de inundação.
Dois meses depois, APA não respondeu
O JN questionou a APA a 30 de janeiro. Dois meses depois, ainda não recebeu resposta. O BE questionou a APA e o Ministério do Ambiente e levou o assunto à última Assembleia Municipal. Um grupo de cidadãos lançou uma petição, exigindo o embargo da obra e denunciou o caso junto do Turismo de Portugal, APA, Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N) e Inspeção-Geral da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território (IGAMAOT). O PS pediu esclarecimentos na reunião do executivo. Aires Pereira diz que, por causa das denúncias, a APA fez uma fiscalização no local “há três semanas” e aguarda os resultados.
“Sobre a localização, e em especial o enquadramento nos instrumentos de gestão territorial aplicáveis, quer quanto às disposições relativas ao uso, ocupação e transformação do solo, quer quanto às condicionantes legais aplicáveis, compete à câmara melhor aferir”, respondeu o Turismo de Portugal aos peticionários, explicando que, “até ao momento, não teve conhecimento de título válido de abertura do empreendimento”, que já está a aceitar reservas a partir de 19 de maio.
A mesma entidade lembra ainda que para aquela zona está em curso a elaboração de um PIER (Plano de Intervenção em Espaço Rural – UOPG 15) e, até lá, “não é admitido o licenciamento autónomo de quaisquer obras de construção ou ampliação na área”. O PIER, em curso desde janeiro de 2024, explicou o vereador da Gestão Urbanística, Marco Barbosa, já está “nas mãos da APA para apreciação”.
Parque de campismo sem tendas
Aires Pereira insiste que o Tivoli Estela Golf não é um hotel, mas um parque de campismo. Ora, a portaria 1320/2008, de 17 de Novembro, é clara: “Nos parques de campismo podem existir instalações de carácter complementar destinadas a alojamento, desde que não ultrapassem 25% da área total do parque destinada a campistas”. Na Estela, nem espaço para tendas existe.
80 quatros e suites
De acordo com o site oficial, o Tivoli Estela Golf & Lodges tem “apenas 80 quartos e suites”. No novo edifício central, há dois restaurantes e dois bares, piscina interior, spa com banho turco, sauna, ginásio e espaços para eventos. No exterior, há piscina, dois campos de padel, parque infantil e acesso direto ao campo de golfe.
Plano diz que desaparece até 2050
O antigo parque de campismo está sinalizado no Plano da Orla Costeira (POC) como zona com “taxas de erosão anuais moderadas a elevadas” e “suscetibilidade à ocorrência de galgamentos oceânicos”. Se nada for feito e com o cordão dunar “fragilizado”, o POC prevê recuos de 65 e 125 metros até 2050, ou seja, todo o parque desaparece.
