Indignação pelo fecho frequente de serviços na Urgência leva autarcas a apelar aos utentes para se juntarem na luta por melhores condições.
Corpo do artigo
O fecho programado de serviços da Urgência no Hospital de Setúbal e a falta de resposta dos centros de saúde para atender utentes levou a que as Câmaras de Setúbal, Sesimbra e Palmela convocassem uma vigília junto ao Hospital de Setúbal para o próximo dia 17 de novembro, entre as 17 horas e a meia noite. A decisão foi tomada no âmbito do Fórum Intermunicipal da Saúde, que reuniu na noite de ontem, terça-feira, em Setúbal, e no qual os autarcas apelaram ao povo para se juntar e lutar contra a degradação dos serviços de saúde nos concelhos de Setúbal, Sesimbra e Palmela.
André Martins, presidente da autarquia setubalense, salientou que "faz quase um ano que nos foi dito pelo Ministro da Saúde que ia ser imposta uma medida provisória de fecho rotativo de urgências obstétricas, mas hoje vemos que o que era provisório está a tornar-se definitivo". "Chegámos ao limite e a população tem que se unir para lutar contra a degradação do SNS", apelou.
Quase 13 mil saíram antes de ser atendidos
No espaço de um ano, de acordo com o documento assinado pelos autarcas e outros participantes no Fórum Intermunicipal da Saúde, houve 123135 atendimentos na Urgência, dos quais 44263 estiveram mais de seis horas no espaço e 12730 utentes ausentaram-se antes de serem atendidos. Foi também assinalado que quase 45% dos episódios são com pulseiras verdes e azuis, por utentes que não têm resposta nos centros de saúde e, por via disso, dirigem-se ao hospital.
Teresa Palminha, representante do Sindicato dos Médicos da Zona Sul, expressou durante o Fórum que o "SNS está moribundo". "Os jovens médicos não querem trabalhar no SNS porque não são respeitados nem têm salário digno, daí serem atraídos por outras alternativas, como privados ou estrangeiro". Teresa Palminha lançou ainda o desafio de se perceber "quantos partos de grávidas saudáveis encaminhadas para o privado pelo fecho de blocos de parto no SNS foram feitos por cesariana, com custos acrescidos".
Álvaro Amaro, presidente da Câmara de Palmela, apontou para o novo estado normal do hospital, com constrangimentos e fechos sucessivos de serviços. "As comunicações diárias que os bombeiros recebem sobre constrangimentos nos serviços são o novo normal e temos que nos juntar para impedir que esta rotatividade dos serviços de urgências não se torne no fecho definitivo de algumas especialidades nos hospitais". O autarca refere mesmo que a população está a perder confiança no hospital. "O meu pai e a minha sogra já não querem que os leve ao hospital, preferem os privados", apontou a título de exemplo.
Francisco Jesus, presidente da Câmara de Sesimbra, lamentou que "sempre que a população perde serviços, não os volta a ganhar, há sim uma estabilização do que é retirado". O autarca apontou para a requalificação do Hospital de Setúbal, mas referiu que "não são suficientes as paredes novas no hospital se não há médicos".