Em Árvore, há cada vez mais pesados a cortar caminho para a A28. A Câmara diz que está a tentar encontrar solução.
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"Quando passa um camião, estremece a casa toda!", atira Deolinda Rodrigues, arrependida de, há sete anos, se ter mudado para a Rua do Loureiro, em Árvore, Vila do Conde. A rua, estreita, sem passeios e casas de um lado e do outro, serve de "atalho" para chegar à A28. Os pesados são "cada vez mais" e passam "dia e noite". Riscam casas, danificam estruturas e, volta e meia, levam na frente o muro da capela de Nossa Senhora da Boa Nova. Protesta a paróquia, protestam os moradores, mas a situação tarda a resolver-se.
"Se soubesse, nunca tinha vindo para aqui! Tenho o teto da garagem a cair. Já estou a pensar mudar-me", continua Deolinda. Mora ali, a meio caminho entre a capela e a junta, numa das zonas mais estreitas da rua, casas dos dois lados, nenhum passeio. Os camiões, garante, "são cada vez mais". Põem em perigo a população, maioritariamente idosa, e a estrutura das próprias casas, a maioria com várias décadas.
Em pouco mais de uma hora, o JN contou largas dezenas de pesados. Carregam inertes e entulho, mas também há os TIR e até os porta-carros.
A Rua do Loureiro serve de atalho aos camiões que querem seguir da EN104 para a Zona Industrial da Varziela ou para o acesso de Mindelo à A28. São cerca de dois quilómetros. A volta pela EN104 e EN13 tem mais quatro.
Muro da capela caiu três vezes
Os moradores já tentaram de tudo: em outubro de 2020, Paulo Silva foi um dos que escreveu ao presidente da Junta. Alertava para "o pavimento inapropriado" e para "a reduzida dimensão da estrada", que nalgumas zonas "não tem mais de quatro metros de largura". Pedia a interdição de pesados. A paróquia também pressionou e chegou a haver um abaixo-assinado. Até hoje nada mudou.
"Por três vezes, já houve danos na capela. A última vez, a 13 de dezembro - nem um mês depois da inauguração das obras de restauro -, atiraram o muro e o portão abaixo", explicou, ao JN, o presidente da comissão de festas de Nossa Senhora da Boa Nova, Vítor Silva. A pequena capela, à face da EN104, está "entalada" entre duas ruas - a do Loureiro e a José Francisco Martins (ainda mais estreita). No muro, todas as semanas há novos riscos de tinta, deixada pelos camiões. Do lado da Rua José Francisco Martins há até um sinal de trânsito proibido a pesados. Ninguém respeita. Vítor teme "pelo abalo constante das fundações".
O presidente da Câmara, Vítor Costa, garante estar a tentar encontrar soluções: "Há um conjunto de empresas [próximo da Varziela] e muitos atravessamentos. É isso que queremos evitar", frisou, admitindo que poderão ser instalados limitadores de velocidade ou até proibir o trânsito a pesados.
Curiosidades
Capela de 200 anos
A capela de Nossa Senhora da Boa Nova terá quase 200 anos (1824-1826). A Santa é a protetora dos pescadores e dos mareantes e a romaria anual era das maiores da região. Há cerca de um século, com o início da I Guerra Mundial, a festa esmoreceu.
Festa em setembro
Em 2018, foi criada uma nova Comissão de Festas com o intuito de retomar a romaria. A festa, adiada em 2020 e 2021 devido à pandemia, vai, agora, realizar-se no primeiro fim de semana de setembro. A capelinha abre na bênção dos ramos e na receção às Cruzes da Páscoa e em fevereiro por altura da Senhora das Candeias.