Camiões em contramão e contra casas em Santo Tirso. “Temos tido sorte, nunca morreu aqui ninguém”
Em Santo Tirso, há uma rua estreita e com trânsito intenso de camiões, que têm de circular em contramão e embatem nas casas. Os pesados ocupam as duas vias da faixa de rodagem.
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São quatro e meia e ainda estamos longe do final da tarde e da hora de trânsito mais intenso, mas o movimento de carros e camiões na EM558-1 – ou Rua Nossa Senhora de Valinhas, entre a Carreira e Monte Córdova, em Santo Tirso – começa a intensificar-se. Junto ao café Conde, que Luciano Oliveira frequenta diariamente, os pesados transpõem a linha contínua e entram em contramão para evitarem chocar com as habitações, que ainda assim somam mazelas de muitos embates. Enquanto os camiões ocupam as duas vias, os veículos que circulam no sentido oposto são obrigados a parar, o que gera filas nas horas em que há mais tráfego.
Um camião carregado de lenha passa sobre as duas vias, na zona da Carreira, e a velocidade considerável; pouco depois, outro segue em sentido contrário e tem de travar numa parte mais larga da estrada, junto à paragem de autocarros, para que os automóveis possam avançar.
Luciano levanta-se da esplanada. Entra no café e sai num segundo, de fita métrica em punho, pronto a estendê-la de uma ponta à outra da estrada municipal. São quatro metros de largura; dois camiões não se cruzam. “Às vezes, estamos na esplanada, a jogar cartas, e eles encostam-se. Ui, saio logo”, conta José Ferreira, que recorda uma ocasião em que teve de “encostar o carro e um camião passou uma tangente; nem se preocupou em abrandar”.
“Pandemónio”
“Numa estrada destas, devia ser proibido passarem tantos camiões. É um pandemónio quando se cruzam camiões e autocarros”, testemunham os clientes do café de Cristina Pires, que pede, por sua vez, medidas de acalmia de trânsito, como “lombas ou semáforos de velocidade”.
A morar há 40 anos na estrada de Valinhas, Maria Araújo recorda que “já se fez um abaixo-assinado para se pôr lombas”, mas sem resultados. E aqui, onde não existem passeios, há portas de casas rentes à faixa de rodagem.
“Claro que tenho receio”, confessa Maria, enquanto Cristina, que vive quase em frente ao café, conta que “muita gente já levou com retrovisores de carros”. Da esplanada, José Ferreira olha para as casas em frente e arrepia-se: “Nem imagino uma pessoa a sair daquela porta”.