Fundo de Ação Social é financiado pela bilheteira de uma noite de concertos. Pedidos de apoio dos alunos para uma bolsa única de 916 euros aumentaram 50% este ano.
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"Queima é em Coimbra, o resto são Fitas". A frase-bandeira que reforça a mais emblemática festa académica do país, que hoje se inicia à meia-noite com a Serenata, é, também, uma capa de solidariedade que os universitários do Mondego estendem aos colegas que mais precisam. Nos últimos três anos, desde que o Fundo de Ação Social António Luís Gomes foi criado, a Queima das Fitas ajudou cerca de 200 alunos com uma bolsa extraordinária de quase 1000 euros.
O dinheiro - proveniente da receita de bilheteira de uma das noites dos concertos - serve para ajudar a pagar o quarto, a alimentação, os transportes ou as propinas. A "má notícia" é que cada vez há mais candidatos, "este ano a procura aumentou 50%", adiantou ao JN o presidente da Associação Académica de Coimbra (AAC), Carlos Magalhães.
Maioria estrangeiros
Onde quer que esteja, o antigo presidente dos estudantes e reitor de Coimbra, entre 1921 e 1924, António Luís Gomes deve estar orgulhoso por dar nome a quem nas capas negras, para além dos emblemas, coze companheirismo. O ano passado, a Queima das Fitas conseguiu 50 mil euros. Foi o dinheiro dos bilhetes vendidos para os concertos na noite do Antigo Estudante, que serviu para que, no último ano, "cerca de 60 alunos tenham recebido uma bolsa única de 916 euros", explicou Carlos Magalhães.
As candidaturas estão abertas todo o ano e, uma vez por mês, é feita uma triagem pela AAC e pelos Serviços Sociais da Universidade, que definem os casos prioritários. "Desde 2022 já apoiamos cerca de 200 alunos com bolsas no âmbito deste fundo social, sendo que a maioria são estudantes provenientes da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, nomeadamente africanos", refere o líder da AAC.
O quadro repete-se este ano. "Segundo os últimos dados, de 11 de abril, há 89 candidatos estrangeiros e 52 portugueses, um aumento geral de 50%, mas que no caso de estrangeiros significa um acréscimo de 61% de estrangeiros", revela Magalhães. "São estudantes para quem as bolsas atribuídas pelo Governo ou Universidade, quando as têm, não chegam para pagar o quarto, a alimentação, os transportes ou as propinas", refere o presidente da AAC, que aponta a necessidade de um "acompanhamento e formação de literacia financeira, para que os alunos saibam gerir melhor o dinheiro".
Angariação extra
O Fundo de Ação Social este ano resulta da venda do bilhete (13 euros) da noite do Antigo Estudante (dia 31), em que vão atuar Ena Pá 2000, João Pedro Pais e os Expensive Soul. Para além dos 50 mil euros que a organização espera conseguir, e face ao aumento da procura, está a decorrer uma campanha de angariação de fundos, "de forma a obter mais 10 mil euros para reforçar em 10 as bolsas de 2026", quantifica Carlos Magalhães.
Serenata lotada
Este ano a principal novidade da Queima é o regresso ao programa oficial da Serenata na Sé Velha. O ano passado realizou-se à margem da organização e contra a indicação da PSP, mas hoje, à meia-noite, o fado de Coimbra volta a perfumar as ruas estreitas da zona antiga, mas com limitações por questões de "segurança", diz Magalhães. "Apenas 4000 pessoas poderão assistir, bem menos que as 10 mil habituais", mediante a apresentação de uma pulseira que esgotou anteontem, acrescenta. O acesso será controlado pela PSP e haverá dois anéis de segurança.
Se na Sé Velha a lotação diminui, na Praça da Canção, onde se realizam os concertos noturnos, o espaço para o público aumentou, com a lotação a subir de 25 para 30 mil pessoas, e a colocação de um "palco 360 graus" para géneros musicais alternativos.
Os concertos arrancam amanhã com Anselmo Ralph e HMB, prosseguindo no sábado com Miguel Luz, Napa e Richie Campbell. No domingo, dia 25, o rei é Quim Barreiros. Segunda-feira sobem ao palco King Bigs, Força Suprema e Van Zee. A 27 será a vez de WIU e Veigh. Na noite de 28, atuam Zé Filipe e DJ Lk Escócia. Os cabeças de cartaz regressam quinta-feira, 29, com Bispo e a britânica Natasha Bedingfield. Seguem-se, na sexta-feira, Plutonio e Dillaz. A última noite, sábado, é para os Ena Pá 2000, João Pedro Pais e os Expensive Soul.
Baile de Gala e Chá Dançante no Estádio Universitário
O Baile de Gala e o Chá Dançante da Queima, agendados para dias 27 e 28, respetivamente, vão realizar-se no Estádio Universitário. Os eventos estavam previstos para o Colégio das Artes, onde funciona o Departamento de Arquitetura (DARQ). A mudança acontece devido ao descontentamento dos estudantes face às condições do edifício. Carlos Missel, coordenador-geral da Comissão Organizadora da Queima das Fitas, disse ao JN que perceberam "o descontentamento dos estudantes e da direção do DARQ".
Texto: Marta Melo