Operação de charme nas escolas de Paços de Ferreira visa captar mão de obra para indústria cada vez mais tecnológica.
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Não há números, mas há certezas. Falta mão de obra, sobretudo especializada, nas empresas de mobiliário de Paços de Ferreira. E não basta só olhar à realidade atual, é também preciso pensar nos trabalhadores do futuro. Para isso, e para sensibilizar para a importância do valor do tecido empresarial do concelho e da marca Capital do Móvel, desmistificando esta indústria e mostrando que está mais moderna e mais bem remunerada, entre outras medidas, está a ser dinamizado, no âmbito do Ano Municipal da Economia, o projeto "A Indústria na Minha Terra", junto de 2500 alunos, do 9.º ao 12.º ano.
É que estas empresas, no futuro, vão precisar de "pilotos de avião" e não só de marceneiros, afirmou Patrícia Castro, nas primeiras sessões, na Escola Profissional Vértice. Segundo a coordenadora do Ano Municipal da Economia, promovido pela Câmara para 2023, sete em cada 10 pessoas do concelho trabalham na indústria, na maioria dos casos do mobiliário e têxtil. As fábricas "já não são feias, cinzentas e cheias de serrim", mas cada vez "mais tecnológicas" e já começam a produzir mobiliário inteligente, sendo que o futuro destas empresas se vai fazer de outras profissões, mais qualificadas, algumas ainda nem inventadas, referiu aos jovens.
Salários do Ensino Superior
"As coisas mudaram para muito melhor nas fábricas de móveis. As pessoas têm qualidade no posto de trabalho, a remuneração é superior à média de outros setores e é um emprego estável", atestou o vice-presidente da Câmara de Paços de Ferreira, Paulo Ferreira. E é preciso "desmistificar", diz o autarca. Um trabalho que começa agora, junto dos mais novos, para dar frutos daqui a alguns anos. Porque é fundamental "colmatar um problema que existe", o da "falta de mão de obra, sobretudo a mais especializada".
"Não conheço nenhuma empresa de mobiliário que não tenha, neste momento, disponibilidade para contratar mais funcionários. É preciso trazer os jovens a este setor para que possamos continuar a crescer enquanto Capital do Móvel. Sem capital humano a Capital do Móvel não tem futuro", sentencia o vice-presidente.
A Associação Empresarial de Paços de Ferreira acompanha as preocupações. "Não podemos precisar números. Vamos fazendo esse levantamento. Mas efetivamente há falta de mão de obra e há falta de mão de obra qualificada, o que ainda é pior", esclarece Ana Rita Pacheco. Os relatos e apelos dos empresários são recorrentes. "Todos os dias ouço dizer que faltam funcionários", acrescenta, ela própria empresária da área do mobiliário. "É uma limitação. As empresas não conseguem crescer porque faltam pessoas", salienta.
Os empresários confirmam. A Premium Hotel Interiors está a crescer e teve dificuldade em contratar seis pessoas este ano. Precisava de outras tantas para áreas especializadas, como estofadores, costureiras e marceneiros (para estofos) e, apesar de os salários serem "interessantes" e ao nível dos do "ensino superior", não encontram, afirma Miguel Lobo. "É preciso mudar mentalidades e convencer de que não é vergonha trabalhar na indústria", acredita.
Rui Carneiro, da Animovel, também não consegue encontrar pessoas na área do design para desenvolvimento de produtos. "Estamos sempre à procura de pessoal qualificado. Já perdi negócios por causa disso", lamenta ao JN.