Captura de foragido de Vale de Judeus catapulta venda de casas em Castanheira de Chã
A detenção de Fernando Careca na aldeia de Castanheira de Chã, no concelho de Montalegre, fez disparar os negócios com casas na pequena povoação. O foragido de estabelecimento prisional de Vale de Judeus, em Alcoentre (Lisboa), foi capturado em novembro passado no Barroso.
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“Olhe que ninguém vem para cá para tratar de animais e trabalhar na pecuária. Isso faz calos”. Desta forma, a sorrir, Emília Dias confessa ao JN que, desde novembro do ano passado, se tem notado uma maior procura pela pequena aldeia de Castanheira de Chã, em Montalegre. Foi nesse mês que este lugar com uma vista idílica sobre as águas da albufeira do Alto Rabagão, nos Pisões, saltou para a berlinda dos principais meios de Comunicação Social e ganhou lugar de destaque no mapa de Portugal. Fernando Careca, um dos presos que escapou na mediática fuga da Cadeia de Vale de Judeus, foi capturado numa casa, então desabitada, de Castanheira de Chã.
“Existem coisas más que se tornam boas”. A constatação é de Jorge Nogueira, agente imobiliário na região que, após as notícias sobre a aldeia, viu aumentar o interesse nas casas que estavam no mercado há anos. “Às vezes, temos aldeias esquecidas. As pessoas não tinham noção desta aldeia. Toda a gente se vira para a zona do Gerês, mas, quando Castanheira de Chã saltou para as televisões, vendi cinco casas no espaço de pouco mais de duas semanas”, confessou ao JN. Nos dias após a captura do fugitivo, “as pessoas, por curiosidade, começaram a ir ao fim-de-semana. Depois, começaram a ir ao restaurante da zona, falaram com as pessoas da aldeia que são muito simpáticas”, explica.
Há cerca de 15 anos a trabalhar o mercado imobiliário da região, Jorge Nogueira ficou surpreendido com o súbito interesse nesta bucólica aldeia do Barroso. “Muitas das casas que estão desabitadas são de emigrantes na América. Uma casa esteve três anos à venda e até não estava cara, mas não tinha tido qualquer visita, não havia interessados. O tempo passou e, pela falta de interesse, a casa deixou de estar à venda”, recorda o agente imobiliário. Entretanto, conseguiu angariar mais quatro casas para venda e, depois de novembro, vendeu-as todas, inclusive a que estava ‘encalhada’ há três anos. “Uma semana após a notícia, tive 20 contactos para essas quatro casas. Deu uma alavancagem muito grande”, sustenta, convencido de que este súbito interesse está relacionado. “Há cerca de 15 anos que faço aquela zona e, de repente, comecei a vender casas. É um território lindíssimo que está escondido e, com esta má notícia, acabou por ser descoberto”, conclui.
Cada vez menos gente nos campos
Sem dar muita relevância a este inusitado interesse pela aldeia, os dias correm normalmente para Emília Dias. Gosta da sua terra que “até tem uma estrada de terra muito boa e, quem for pela coroa do lugar, pode chegar com facilidade a Montalegre”.
A ajudar o marido a amanhar a terra e a tirar algum estrume das cortes do gado, Emília confessa que já ouviu falar da venda de casas na aldeia. “Já soube que se venderam aqui umas casas, mas, para já, não há cá ninguém a viver de novo”, confessa, de olhos postos em alguns cartazes de imobiliárias que se mantêm pregados às velhas casas do lugar. “Já compraram, mas ainda há muita coisa à venda por aqui. Agora, tem aparecido gente do Porto, de Guimarães, mas não vivem cá”, ressalva.
Aliás, crianças só mesmo os seus dois netos, porque, de resto, a maioria da população já está para lá da barreira dos 50 anos. “Somos cada vez menos a trabalhar nos campos. Isto até pode mudar muito, mas, para já, não se nota nada. O que se nota é que anda gente por aqui à procura de umas casas mais pequenas e estas, que ainda estão à venda, são grandes. São casas para turismo não são para vir para cá gente viver”, lamenta, ainda assim, Emília.
Segundo capturado de Vale de Judeus foi apanhado em Castanheira de Chã
Fernando Ferreira, conhecido como Fernando Careca, foi um dos cinco reclusos que, em setembro do ano passado, protagonizou a fuga do Estabelecimento Prisional de Vale de Judeus, em Alcoentre. Viria a ser o segundo a ser capturado pela Polícia Judiciária, em novembro, numa velha casa da aldeia de Castanheira de Chã, em pleno Barroso.
Os habitantes até acharam Fernando uma pessoa “simpática”. Só que, atrás de si, vinha um rasto de crime: 61 anos, natural de Tarouca, já tinha sido preso aos 16 anos por pequenos furtos. Em 2009, integrou um gangue que fazia assaltos violentos a hipermercados e ourivesarias e, em 2010, raptou e torturou um empresário em Condeixa-a-Nova. Também já havia sido condenado por tentativa de homicídio de uma mulher em Lisboa. Estava a cumprir uma pena de 24 anos mas recaiam sobre eles outras que ainda estavam pendentes.
Os fugitivos já foram todos capturados.