Capturas de sardinha baixam, preços sobem: “Muito boa, mas há pouca e é cara!”
A norte, as capturas baixaram e o preço já começou a subir. Na segunda-feira, Matosinhos será a única grande lota na região a vendê-la fresca.
Corpo do artigo
Sexta-feira, 8.30 da manhã, lota de Matosinhos. A traineira Pedro André acaba de encostar ao cais. André Santos sai rumo à venda. Regressa pouco depois, com 120 cabazes de sardinha vendidos a 83 euros cada um (3,69 euros o quilo). “Bem bom!”, atira, sem hesitar, contente com a “inflação” habitual do S. João. Pena é que, em duas semanas, não tenha havido um único dia que pescasse os 300 cabazes permitidos. A sardinha é “gostosa” e o tamanho “bom para a brasa”, mas a verdade é que “não tem abundado”. À porta da lota, Maria de Lurdes vende-a a dez euros o quilo, mas na segunda-feira, avisa, “vai subir”. Nos restaurantes, os preços chegam aos 35 euros por pessoa para jantar na noite mais longa do ano. E a verdade é que, cara ou barata, a casa cheia é garantida.
“Tem sido um ano bom: há procura da indústria, começamos com peixe bastante curto [pequeno], mas agora já tem tamanho para a restauração e os contratos com as conserveiras trouxeram estabilidade ao mercado”, afirma Agostinho Mata, da Propeixe – Cooperativa de Produtores de Peixe do Norte, que agrega 24 barcos da pesca do cerco, quase todos a trabalhar em Matosinhos. Depois de um mês de maio com os barcos a trazer, quase todos os dias, o limite permitido, na última semana as capturas caíram. Os ventos e as correntes ajudam a explicar o fenómeno, mas, em cima do S. João, “não veio nada a calhar”, atira Filipe Novo, do “Rumo à Pesca”, que, dos 300 cabazes permitidos, também só pescou 140.
“Pode haver surpresas”
Na lota, consoante o tamanho, a frescura e a gordura, os preços oscilaram, ontem, entre os 52 e os 83 euros o cabaz (de 2,31 a 3,69 euros o quilo). Por causa do santo, foram suspensos – ontem e segunda – os contratos com a indústria conserveira, que desde o início da safra garantem a compra de, pelo menos, metade do peixe dos barcos da Propeixe, a preços entre os 76 e os 88 cêntimos.
Por isso, segunda-feira “pode haver surpresas”, diz Agostinho Mata. Com menos peixe e os barcos de Peniche a só saírem para o mar na segunda à tarde (a pesca da sardinha é proibida ao fim de semana), Matosinhos será a única grande lota a norte com sardinha fresca na véspera do S. João.
Na lota, o peixe é vendido apenas a comerciantes e, a 50 metros, o consumidor já paga três ou quatro vezes mais. A “culpa”, dizem, é dos impostos, das licenças, do transporte, do gelo.
“Quem quiser que venha amanhã [hoje], porque segunda-feira o preço vai subir”, explica Maria José Lopes, que vende à porta da lota há 31 anos. Nesta altura, diz, “é sempre assim”. Ontem, vendia a sardinha a dez euros o quilo. Era de Peniche, “fresquinha, grande e muito boa!”.
Aos clientes ia explicando como conservá-la para o S. João: “põe num ‘tupperware’ com água salgada e congela assim. Na segunda-feira ao meio-dia, tira do congelador para comer à noite e vai ver que é como se fosse fresca”. Para a véspera de S. João, Maria José já acumula encomendas. Só pede que o peixe não falte, nem chegue aos 150 euros por cabaz de outros anos.
Nos restaurantes
“Sardinha? Muito boa, mas há pouca e é cara!”, explica Serafim Pereira, garantindo que, este ano, a sardinha está “bem melhor” do que em 2024. No restaurante A Peixaria, a dois passos da lota, na esquina da Avenida de Serpa Pinto com a Rua Sul, já se prepara o S. João.
“É a noite maior do ano em termos de trabalho! É gente aqui por todo o lado!”, conta Serafim, que decidiu não mexer nos preços na grande noitada. Ali, uma dose com seis sardinhas, batata e salada custa 9,5 euros “e o preço vai manter-se”. Ganha menos, “mas o cliente fica”. No ano passado, assou mais de 120 quilos de sardinha, entre as 18.30 e a meia-noite. Este ano, “não deve ser diferente”.
No n.° 10 da Rua de S. Sebastião, Fernando Lopes prefere fazer menu: 35 euros por pessoa, com vinho, pão e broa, caldo-verde, sardinha assada (ou entrecosto) com batata a murro e salada e sobremesa.
“Já estou à espera de pagar 15 euros por quilo”, afirma, resignado. No ano passado, n’ “O Mar’co” venderam-se mais de 60 quilos. Este ano, espera-se enchente igual. Seja na lota, na banca ou no restaurante, a sardinha anima as vendas. Quem vive dela só tem pena de que “o S. João seja só uma vez por ano”.