Foi à varanda que os Caretos de Podence cumpriram a tradição de chocalhar associada ao Carnaval, desta vez para meia dúzia de habitantes da aldeia que não resistiram à curiosidade e foram à rua espreitar. Muito longe da alegria, vivacidade e enchente de 2020 que levou mais de 50 mil visitantes à localidade.
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"É o que se pode arranjar", referiu o presidente da Associação dos Caretos de Podence, António Carneiro, destacando que se trata de uma maneira "simbólica" de celebrar a quadra.
O palco estava quase vazio, porém o potencial da plateia era o mundo inteiro, visto que a iniciativa foi transmitida online pelo Facebook. "Também fomos afetados pelas contingências e estamos aqui para manter a chama acesa da tradição. Pedimos aos visitantes para não virem e aos habitantes para ficarem em casa. A saúde está em primeiro lugar", esclareceu aquele dirigente associativo.
Num ano em que não é possível realizar o Entrudo Chocalheiro, em virtude da pandemia covid-19, a organização optou por convidar os caretos a mostrar-se em cerca de duas dezenas de varandas da aldeia, onde não deixaram de pular com a irreverência habitual.
O careto Luís Dias vestiu-se a rigor e compareceu. "É preciso adaptações às limitações próprias da pandemia, mas não podemos deixar a tradição de fora. Estamos aqui para mostrar que nem a pandemia detém os caretos", salientou.
Mário Félix também vestiu o seu fato de lã vermelho, amarelo e verde, lamentando que a aparição fosse tão fugaz. "Estamos cá. É o mais importante", salientou.
A festa fez-se, em modo micro, mais triste, mas os caretos andaram por Podence, na rua, à janela, na varanda ou no balcão dispostos a não deixar que ninguém esqueça que fazem parte do Património Cultural Imaterial da Humanidade.
Os prejuízos económicos são muitos, principalmente para os empresários do turismo, restauração e produtores locais. "Isto vai mal. Tenho um alojamento local e está vazio. No ano passado estava lotado", deu conta Olívia Brito, 80 anos, proprietária de uma casa de alojamento local.