
Teixeira Correia / JN
"É um projeto arrojado que apresenta um tema pesado e muito negro da história da humanidade e pouco desvendada, mas que deve ser contada", assim descreveu ao JN, António Pita, presidente da Câmara Municipal de Castelo de Vide, a criação da "Casa da Inquisição".
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Inaugurada no passado dia 16 de março, o espaço resultou da recuperação de um edifício de três pisos, classificado de Interesse Municipal, num investimento de um milhão de euros, a maioria resultante de fundos comunitários através do Turismo de Portugal.
A inquisição foi instalada em Portugal no ano de 1536, a pedido do rei D. João III ao Papa Paulo III e extinta em 31/03/1821.
A "Casa da Inquisição" em três semanas de abertura ao público, já ultrapassou os mil visitantes, que permite uma visita guiada por um espaço que reproduz de forma "pura e dura" os Tribunais da Inquisição do Santo Ofício ".
Através de uma aplicação que o visitante instala no seu telemóvel, permite a consulta de treze marcadores explicam as várias fases desse período tenebroso.
É uma visita que causa surpresa e tristeza, mas que acima de tudo deixa perceber porque já não existem judeus-sefarditas. "Esta casa é um legado de memória de quem foi perseguido e morto", justificando António Pita que a casa "pretende desmistificar o que foi a inquisição", remata.
Uma das responsáveis das visitas guiadas, Suzana Machado referiu que "é preciso coragem para visitar e compreender este período", revelando que "existiram três tribunais da inquisição em Lisboa, Porto e Évora ", concluiu.
Ao longo da visita de cada recanto, percebe-se que "o silêncio era a arma forte do sistema. A perseguição foi um negócio e um jogo de interesses que fez mais de 40 mil vítimas em Portugal", revela uma das personagens "revividas" pelas aplicações móveis.
Visita histórica e inédita
Após a Bênção dos Cordeiros, a casa recebeu a visita do padre Tarcísio Alves, de 85 anos e pároco há 20 anos de Castelo de Vide, que não esteve presente na inauguração.
Apesar da idade e apoiado numa bengala Tarcísio Alves visitou todos os espaços e ao JN revelou um dos casos vividos na vila alentejana e perpetrada em 1832 contra o Prior de Arrocha, pelo exército fiel ao rei D. Miguel: "foi julgado no castelo, trazido descalço e de olhos vendados para o Largo de São João e aqui foi fuzilado. O Bispo de Évora era o delegado do rei", concluiu.
A inquisição em Portugal foi o mote para prática do criptojudaismo: "uma vivência secreta de identidade judaica", é uma das muitas expressões violentas que a experiência apresenta.
