Há sangue novo a pulsar na Travessa de Cedofeita, no Porto. Dois anos depois da centenária Casa Margaridense ter encerrado - paredes meias com os antiquários e alfarrabistas - o espaço reabre hoje como Casa de Ló. "Uma casa de chá, durante o dia, que se transforma num pub, à noite", contou, ao JN, Sara Pinto, mentora do projecto juntamente com a amiga Adriana Rocha.
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Com o aluguer e renovação de um "local tão especial, que sempre fez parte do imaginário de infância", as amigas propõem-se "seguir um sonho comum" e devolver à Baixa "o frenesim de outros tempos", sublinhou Sara.
A fachada do número 20 A da Travessa de Cedofeita, pintada de fresco com o vermelho-marmelada de outrora, leva a mente a uma viagem pelo passado. O "abre brevemente", escrito a giz numa lousa preta que está afixada na porta, tem aguçado a curiosidade daqueles que por ali passam.
Sara Pinto desce a rua a correr. Está a chover. Assim que mete a chave à fechadura, agacha-se para apanhar umas cartas. "Está a acontecer um fenómeno muito engraçado de pessoas que, diariamente, nos têm deixado bilhetinhos debaixo da porta a dar conta da sua passagem por aqui, inconformadas pelo facto de a Casa de Ló ainda não ter aberto", conta, entusiasmada, Sara Pinto.
Mal o pé toca a soleira e o olhos seguem para o interior da casa, há um encontro familiar com a antiga Casa Margaridense. Sara confirma a redescoberta: "De facto, muito do nosso trabalho aqui foi restaurar e pintar o mobiliário". A Casa de Ló (aberta de segunda a sábado, das 10 às 2 horas) divide-se em dois ambientes, entre o antigo e o contemporâneo, que se completam na perfeição.
Logo à entrada, por detrás de armários com origem no século XIX, convidativas malgas de marmelada aguardam a vez de ser levadas para casa. Há ainda chás, geleias, bombons da célebre fábrica A Vianense, e bolachas com sabores curiosos, como laranja e sésamo, noz e chocolate e aveia integral.
E pão-de-ló? "Esse, agora, vem da Fábrica de Pão-de-Ló de Margaride, em Felgueiras", e pode ser empacotado nas míticas caixas octogonais ou "comido à fatia aqui na Casa", explicou Sara, que garantiu que "todos os produtos são escolhidos a dedo". Ou seja, "são nacionais e confeccionados de forma tradicional".
Ainda no espaçoso hall de entrada sobressaem dois objectos "herdados" da Margaridense: o célebre cofre, onde eram guardadas as secretas receitas do pão-de-ló, e um antigo relógio de parede.
O projecto do arquitecto António Pedro Valente deixa ainda à vista uma sala, com mobiliário trazido da Rua da Picaria, onde as portadas para o quintal convidam o sol a instalar- -se entre as mesas, que têm a "especial curiosidade de ser pintadas com tinta de ardósia, por isso, as pessoas podem escrever o que lhes apetecer", sublinha Sara Pinto.
O espaço, que pretende também oferecer "um leque de almoços leves e vegetarianos", promete para o Verão "animadas sessões de cinema ao ar livre".
Sendo certo que, até lá, uma diversificada programação cultural, da responsabilidade de Pedro Augusto Sousa, vai animar as noites de fim-de-semana.
